"Penso que penso"

Passei este fim-de-semana nas Caldas. Duas noites fora de mim. Duas noites sem me lembrar do meu corpo. Duas noites de pausa dentro desta pausa. E agora voltei para esta pausa que afinal não é pausa nenhuma, que é a minha vida. Só agora é que me apercebi disso.

Esta é a tua nova vida. Aceita-a.
Este é o teu novo corpo. Usa-o.
Ou aguenta-te.

(Cada dia é um dia, quero resistir mais um dia, um momento, uma desilusão, uma luta, uma pausa, uma dor, uma lágrima, só mais hoje. Amanhã? Não posso pensar em amanhã.)
“Penso que penso que penso que penso que ainda vou flipar. Flipar.”

É difícil fingir que está tudo bem. E quanto mais melhorar, pior fico. Quero ser livre, livre para continuar. A morte é tão fácil, não sei qual é o fascínio por ela. Continuar é difícil. Continuar é segurar os nossos fantasmas pelos ombros e encara-los de frente. Olha-los nos olhos e dizer “preciso de ti”. Preciso dos meus medos.
Trocava tudo o que aprendi pela ignorância. Não saber o que é um cateter. Não saber o que é hipersensibilidade. Não saber que tenho muita gente que me ama. Desculpem. Quando estava deprimida era mais fácil. A culpa nunca era minha - era da sociedade; era do meu pai; era dos professores; era de toda a gente menos minha, e andava embriagada à primeira oportunidade porque era bonito. Na minha cabeça uma miúda que bebia e tomava comprimidos e era depressiva, era bonita.

Que estúpida que eu era.

Agora tomo seis comprimidos por dia e não acho piada nenhuma. Não posso beber. Quando tens de pagar um preço maior que o gozo, quando tens mesmo medo, tanto medo que ficas doente, queres pôr-te bom. Ficar bom, mesmo que tenhas receio de não executares o teu talento tão bem. Mesmo que te tornes numa daquelas pessoas normais, com vidas normais.



“Penso que penso que penso que penso que ainda vou flipar. Flipar.”
Tenho que deixar de pensar.
Tenho que deixar de ansiar.
Tenho que deixar de esperar. Esperar. Esperar.
Tenho que deixar de esperar o dia em que vou ficar bem.
Tenho que deixar de esperar o dia em que me vou embora.
Tenho que deixar de esperar o dia em que me vou sentir amada.
…ou corro o risco de flipar.

Comentários

Anónimo disse…
Tu nao queres ser ignorante.. Tu nao trocavas todo esse conhecimento por nada.. Não te conheço, mas ja reparei que te amas. Se nao o fizesses, nao escrevias, nao lutavas, nao vivias.. Limitavas-te a sobreviver.. Este fim de semana foi a prova que sim, que estás viva. Que sim que estás (talvez pela primeira vez) a viver e a saborear cada segundo da tua vida..

Lembraste daqueles rebuçados ácidos? Daqueles que se punham na boca e eram tao acidos, tao acidos, que às vezes tinhamos vontade de os cuspir? Mas resistiamos! E depois vinha o doce.. Aquela sensaçao que conforto.. E quando se trincava *plim* surpresa! Tinham uma recheio maravilhoso..


Eu lembro-me deles.. Lembro-me deles a cada momento dificil na minha vida..

*

PS - Flipar não é assim tao mau.. Edgar Poe era um flipado.. Fernando Pessoa tambem.. só nao souberam aproveitar o flipanço para seu beneficio ;)

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