O meu primeiro conto!!

Mais um Dia Difícil
Ele estava num dia difícil. Tinha passado o dia todo a vomitar e com uma diarreia tão atroz que sempre que ia à casa de banho parecia que as paredes do ânus rasgavam.
Ele suava. Tinha o cabelo seboso, que se colava à testa. Tinha as mãos e os pés gelados e em agua. Até era um homem atraente, não fossem os dedos amarelos e o mau hálito. Bem enganada, uma mulher poderia ver nele o amor. Mas ele não amava ninguém para além dele próprio, e sabia disso. Até se divertia quando as mulheres suplicavam por mais uma vez com ele. Houve algumas que levaram mas que, no fundo, até gostavam, então nunca precisou de estar sozinho. Havia qualquer coisa nele que atraias as pessoas.
Houve também umas quantas vezes que fodera com homens, mas isso guardava em segredo. Nunca se preocupou em analisar o porquê desse desvio, não lhe interessava sequer. Nem sabia se tinha gostado ou não, fazia-o porque era desejado, e isso bastava-lhe.
Mas agora estava velho. Ia a caminho dos 50, e já lhe faltava o ar toda a vez que tentava respira.
Nesse dia acordara afogueado. Olhou para a miúda que tinha a seu lado, tinha idade para ser filha dele. Tinha um ar nojento, magra, sem mamas nem cú, cheirava a tabaco e a vinho barato, se calhar era uma puta agarrada à heroína. Se calhar era filha dele, corria esse risco, quantas vezes ele ouviu “estou grávida!”? Não era dele, com certeza, porque ele vinha-se sempre lá fora, quem elas pensavam que estavam a enganar?
Levantou-se do quarto nauseado com o cheiro a cona ordinária e meteu um cigarro nos lábios. Acendeu o lume no fogão e aproveitou para fazer um chá. Pôs a água a ferver, abriu o armário. Tinha chá, uma saqueta perdida no fundo, a ser comida pelas lavras das traças. Afastou as lavras com a mão, e usou-a. Enquanto esperava pelo chá, serviu-se de um bagaço barato e pôs-se a olhar para o pénis. Não tinha o mesmo vigor, é certo, mas ainda se vinha, mesmo que fosse um esperma coagulado e amarelo. Pensou que era impossível ter filhos com aquele esperma, e abanou a cabeça rindo.
Verteu o chá para uma caneca, sentou-se. Levou o chá à boca e foi fustigado, queimou a língua, levantou-se com um sonoro “caralho!” e bebeu um gole de bagaço, e a raiva disparou. Foi ao quarto, agarrou a puta pelos cabelos “vai-te embora!” gritou com aquela voz rouca e profunda.
Ela era tão pequena em relação a ele… Ainda tentou balbuciar qualquer coisa, mas já estava a ser arrastada pelos cabelos pelo corredor fora. Assim que fechou a porta ela começa a tocar incessantemente à campainha. Ele detestava a campainha. Quanto mais ela tocava, mais ele se irritava. Foi ao quarto quase sem conseguir respirar e com a cabeça a latejar, agarrou à mão cheia nalgumas roupas que viu por lá, abriu a porta e quando começou a ouvir aquela voz estridente a tentar gritar com ele, puxou da mão esquerda e foi com a cabeça dela de encontro à porta. Fechou a porta. Ouvia só o silêncio. Voltou ao chá, mas estava frio. Acendeu outro cigarro, e recostou-se para trás. Ainda não tinha travado sequer quando tocaram outra vez à campainha. Ignorou a primeira vez, mas à segunda e à terceira a sua cabeça voltou a latejar, voltou a cólera, o coração corria, e quanto mais depressa ele corria, mais dificuldade tinha em respirar.
Abriu a porta num ápice e fitou a velha do andar de baixo. Ela ia abrir a boca para falar mas assim que o viu ficou suspensa, primeiro pelo facto de ele ter aberto a porta tudo nu, só com meias, e estavam desencontradas. E depois… Aquele olhar cuspia raiva em todas as direcções. “Está a fazer muito barulho!” dizia a velha como se estivesse memorizado aquilo. Ele fez um esforço para respirar fundo e disse-lhe “Mete-te na puta da tua vida” disse com calma, pausadamente, como lhe custasse dizer as palavras, quase como estivesse a cerrar os dentes para não a matar.
Fechou a porta violentamente. Estava a ser corroído pela raiva. Foi à procura do Martini que tinha algures, mas foi dar com a garrafa no chão do quatro. Aquela puta tinha-o bebido. Sentou-se com o coração a palpitar, com o rosto encarnado, com o cigarro na mão e viu. Naquele momento viu.
No chão do quatro, junto à cama, estava uma faca, quase com 10cm de comprimento e 2,5cm de largura. Nunca lhe tinha passado pela cabeça matar-se, mas aquela faca estava a chama-lo, havia uma ligação quase mística entre ele e aquela faca, ela parecia-lhe bela, ele estava sob um feitiço tão poderoso que não conseguia evitar de olhar para ela.
Ele estava assustado. Não podia pegar nela de maneira alguma. A lamina era tão fina quanto uma folha, e pareceu-lhe das coisas mais limpas e puras que alguma vez tivera oportunidade de ver. O braço direito começou a ir em busca dela, assim, sem que o cérebro o tivesse ordenado, e ele não se apercebeu que estava a pegar nela.
Foi como se estivesse noutro sítio, limpo, branco, com uma faca a ir em direcção dele, a afagar-lhe o peito e o pénis. Começou a masturbar-se, segurando o pénis com a mão esquerda e a faca na mão direita a imaginar qual seria a sensação de ter uma faca dentro dele. Ele já sentira algo dentro dele, mas era a primeira vez que o desejava tão ardentemente, com tanta convicção. Estava a sentir tanto prazer que roçou a faca à face, e era mesmo aí, estava a vir-se e passou a faca aos lábios, como se fosse a boca da mulher que mais desejara na vida, era mesmo aí, era tanto o entusiasmo não pode evitar, cortou-se. Do canto da boca até a meio da bochecha.
Gritou como um animal e largou a faca que caio no mesmo sítio onde estava. “Filha da puta!!” então arremessou-a pela janela fora. Tinha o sangue a escorrer pela boca, só parava no ombro, no braço, na cama, no chão.
A raiva tornou-se em frustração. Acabara de foder a mulher mais bela do mundo e nem se conseguiu vir. Agora estava com dores na boca e nos tomates. Pegou numa meia para estacar o sangue. Naquele instante a tripa revoltou-se mais uma vez. Afinal era só mais um dia difícil.

Comentários

Anónimo disse…
http://www.escritartes.com/forum/index.php/

Acho que devias participar neste forum :)

Não é o genero de contos que aprecie, mas nao posso deixar de o considerar muito bom :)

Tens tantos dons dentro de ti! É optimo saber que os exprimes :)

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