Reflexão #246
Hoje fui ver um quarto nas Caldas. Outra vez a expectativa, outra vez a duvida, como se voltasse a ter 18 anos e abrisse os olhos para um mundo novo. Um mundo novo não para os olhos, mas para mim, para o meu corpo. Agora posso dizer que me sinto assustada e escrevo isto quando estou sozinha em casa, num daqueles raros momentos. Amanha começo a terapia lá. Tanta coisa nova; quando vim de Lisboa sentia-me invencível, capaz de fazer tudo mesmo com medos. Agora apercebo-me que não é assim tão fácil, ou neste momento de fraqueza julgo isso. Mas preciso de ir com a minha vida para a frente, o tempo não pára à minha espera: na minha cabeça o ano de 2007 não existiu. Tenho de ser forte, mais forte do que alguma vez fui, e digo isto no meio de umas quantas lágrimas de crocodilo. Toda a gente quer ser livre mas poucos o são – a liberdade assusta, é o que tenho a dizer. Toda a gente está ligada a algo, a uma religião, a alguém, a um sítio, nunca estão realmente sós. É que este estado (físico e mental) encerra em si uma solidão imensa… O que estou a sentir, pouca gente sente/ sentiu, e não conheço ninguém que me diga “Eu já passei por isso…”, pois por mais conselhos que eu ouça nunca nenhum está perto de ser útil. Não é querer ser presunçosa, possivelmente estou a sê-lo, mas tenta compreender. Tenho 22 anos e um corpo que não é totalmente meu.
Eu amava dançar, sair, beber, conduzir, viajar. Nada disso faço agora. Umas por medo, outras por complexo, outras porque não posso mesmo fazê-las. Pareço uma velha a lamentar-me quando ontem estive a “dançar”… Na festa do Pêro Neto (uma daquela terriolas perdidas na ainda mais perdida Marinha Grande). Eu gostava de ir a essas festas (cerveja barata, musica pimba e dar um passo de dança com a Rita eh eh) e foi a 1ª vez que fui a uma porque tinha de estar pronta para: 1º passo – Aguentar a música (sim, era má, mas refiro-me ao barulho em si); 2º passo – Arranjar sitio para me sentar; 3º passo – Tentar dançar. A certa altura disse à Rita “se te pisar, é porque não sinto”, ao que ela me respondeu “tu já me pisaste…”.
Hoje pensei outra vez em algo que me anda a martelar a cabeça. Sou a mesma, mas diferente. Falta-me coragem, não sei. Estou passiva, a Marinha faz mal à cabeça das pessoas, era como se vivesse numa ilha pequenina. Tenho demasiado tempo para pensar e pouca oportunidade para fazer. Quero fazer Teatro, é uma audácia arrogante e ingénua, mas é a verdade. Mas depois penso no que o Rogério me disse sobre os corpos acidentados na performance (que não se vêm muitos) e no que o Jonas me disse há uns meses (João Garcia Miguel, coordenador do curso de Teatro na ESAD) “podes sempre tirar um mestrado em encenação ou em dramaturgia”. Não. Eu não quero fazer outra coisa que não seja representar. Ás vezes tenho dúvidas, mas nestes momentos sei o que quero. Quero um corpo novo. Quero que desfaçam o mal que me fizeram. Estou pronta para esperar o tempo que for preciso, as dores que hão-de vir, os anos a passar, mas quero o meu corpo apto para dançar, representar. Ou então tenho que desenvolver um mecanismo que me permita fazer as duas coisas e que me faça sentir bem com elas.
Estou a olhar para o meu braço. Ele assusta-me. Sinto que ele se quer mexer (não consigo explicar melhor, mas é como se tivesses um braço engessado ou preso e ele quer-se soltar mas pode). Ao invés, ele está aqui pousado no meu colo.
Eu amava dançar, sair, beber, conduzir, viajar. Nada disso faço agora. Umas por medo, outras por complexo, outras porque não posso mesmo fazê-las. Pareço uma velha a lamentar-me quando ontem estive a “dançar”… Na festa do Pêro Neto (uma daquela terriolas perdidas na ainda mais perdida Marinha Grande). Eu gostava de ir a essas festas (cerveja barata, musica pimba e dar um passo de dança com a Rita eh eh) e foi a 1ª vez que fui a uma porque tinha de estar pronta para: 1º passo – Aguentar a música (sim, era má, mas refiro-me ao barulho em si); 2º passo – Arranjar sitio para me sentar; 3º passo – Tentar dançar. A certa altura disse à Rita “se te pisar, é porque não sinto”, ao que ela me respondeu “tu já me pisaste…”.
Hoje pensei outra vez em algo que me anda a martelar a cabeça. Sou a mesma, mas diferente. Falta-me coragem, não sei. Estou passiva, a Marinha faz mal à cabeça das pessoas, era como se vivesse numa ilha pequenina. Tenho demasiado tempo para pensar e pouca oportunidade para fazer. Quero fazer Teatro, é uma audácia arrogante e ingénua, mas é a verdade. Mas depois penso no que o Rogério me disse sobre os corpos acidentados na performance (que não se vêm muitos) e no que o Jonas me disse há uns meses (João Garcia Miguel, coordenador do curso de Teatro na ESAD) “podes sempre tirar um mestrado em encenação ou em dramaturgia”. Não. Eu não quero fazer outra coisa que não seja representar. Ás vezes tenho dúvidas, mas nestes momentos sei o que quero. Quero um corpo novo. Quero que desfaçam o mal que me fizeram. Estou pronta para esperar o tempo que for preciso, as dores que hão-de vir, os anos a passar, mas quero o meu corpo apto para dançar, representar. Ou então tenho que desenvolver um mecanismo que me permita fazer as duas coisas e que me faça sentir bem com elas.
Estou a olhar para o meu braço. Ele assusta-me. Sinto que ele se quer mexer (não consigo explicar melhor, mas é como se tivesses um braço engessado ou preso e ele quer-se soltar mas pode). Ao invés, ele está aqui pousado no meu colo.
Comentários
queria só dizer-te que NADA em ti te impede de seres actriz. e de seres actriz agora. como tu estás agora. tu não precisas de ter um corpo assim ou assado para representar. por favor, vamos acabar de vez com essa merda de que os actores devem ser detentores de qualidades físicas e psíquicas x, y ou z... é ridículo, é retrógrado, é estúpido. o que importa é que continues a viver, a ser curiosa, a experimentar, a ler, a ver coisas, a pensar, etc. isso, sim, são coisas importantes. e tudo isso tu podes fazer. o resto é completamente acessório...
beijos grandes e até breve!
r.
Ok, mau exemplo: morangos com açucar.
tens aqueles corpinhos todos xpto (mnha mnha) mas aquilo é tudo menos representar: é ... sei lá... fazer de conta que sim.
E tu és actriz.
O corpo - uma luta. Mas já o era antes. Agora é diferente, mais dificil sim, nao vamos negar, mas não te impede. É uma luta e com cada batalha, uma vitoria.
Foi bom ver-te. Não consigo olhar para ti dessa maneira aleijada. És a Daniela ainda: sarcastica, com o mesmo riso e o mesmo olhar. Teimosa e com a cabeça sempre a trabalhar.
bj grande
t.e.u.