O Internamento
As coisas más
A minha estadia nos covões não foi tão dramática como alguns amigos meus pensaram. Não sei porque, talvez porque fui tratada muito bem por todos. O meu caso era grave, embora não tivesse consciência disso. A primeira semana (fora dos C.I.) foi calma, até porque não pensava muito. Passava o tempo a dormir e a ver televisão (num estado vegetativo – não me interessava o que estivesse a dar. Desde que estivesse a dar qualquer coisa…). A primeira vez que me apercebi que estava “presa” num hospital foi um momento, à noite, em que as auxiliares apagaram a televisão eram talvez 22h. Não tinha sono e então comecei a pensar… e a chorar. Mas da minha voz saiam uns esgares horríveis, e quanto mais eu me ouvia, mais chorava. Devo ter acordado a rapariga com quem eu partilhava o quarto, não sei, mas aquele foi o momento em que me senti mais pequena, frágil, vulnerável, impotente, sei lá mais o quê do cosmos inteiro.
(Pausa para respirar…)
Eu fui operada de novo na 3ª semana. Tiveram que me fazer exames, um dos quais uma ressonância. Outro momento difícil. Primeiro meteram-me uma coisa qualquer por uma veia da virilha até à cabeça. Depois colocaram-me numa maca especial e deram-me uma injecção, disseram que era qualquer coisa para fazer o contraste, para de verem as veias no ecrã. Mas isto não me custou nada… Quando a maquina começou a trabalhar, isso sim, eram dores! Porque quando a radiação começava (para “tirar fotos” ao meu cérebro) começava a sentir a cabeça tão quente, mas tão quente que parecia que ia rebentar. E não foi só uma vez…
No dia antes da operação chorei um pouco. Lágrimas de crocodilo, estava com um receio inconsciente de qualquer coisa. Mas estava bem, confiante. No dia da operação estava um pouco nervosa quando me levaram para a sala em que preparam as coisas todas e me anestesiaram. Cheguei e vi que havia pessoas que, como eu, estavam a ser preparadas e outras que saiam do bloco. (Parecia hora de ponta…) Nem sei a que horas fui operada, lembro-me que era ainda de dia. A anestesia foi diferente (eu já tinha sido operada ao apêndice…) do que me recordava, foi mais lenta, e estava a ver a dobrar. Lá uma enfermeira (?) disse-me para fechar os olhos.
Acordei com a cabeça ligada e com uma dor miudinha por toda a cabeça, e achei que era melhor dormir. No dia seguinte acordei bem, estava feliz de ver a minha família lá.
As coisas boas (se é que se pode falar em coisas boas…)
Sempre fui muito bem tratada, por toda a gente. Falavam comigo, brincavam comigo. O apoio da minha família também foi muito importante, todos os dias esperava que viessem, com o seu cheiro a casa e com histórias da Mimi Siku (a minha gata). Fiquei surpreendida com o facto de amigos meus, alguns nem os via a anos, me virem visitar. Eram sempre uma surpresa agradável, traziam-me livros, bolos, sumos, mimavam-me até mais não. Foram todos eles que contribuíram para a minha confiança “Vai correr tudo bem”, e correu o melhor possível. Também houve amigos que não conseguiram ir ao hospital (ou por impossibilidade ou por medo) mas que sentia que eles estavam a transmitir energias positivas. Tenho de agradecer…
Ultimo dia
Eu não estava à espera de sair tão chego, mas ainda bem, pois começava a ficar ansiosa. Alguém veio ter comigo e disse-me que ia ter alta. Em altas estava eu! A minha mãe ficou confusa, eu ainda tinha agrafos na cabeça (33) e ela não sabia o que fazer comigo. Uma enfermeira esclareceu-a, e “ala que se faz tarde”! E ela continuou com medo… Isso já é assunto para outro post.
Pensamento final
Tive medo, tive dores, tive de lidar com muitos episódios embaraçantes, mas, talvez por não me aperceber do risco que estava a correr, nunca me vi tão optimista na minha vida.
A minha estadia nos covões não foi tão dramática como alguns amigos meus pensaram. Não sei porque, talvez porque fui tratada muito bem por todos. O meu caso era grave, embora não tivesse consciência disso. A primeira semana (fora dos C.I.) foi calma, até porque não pensava muito. Passava o tempo a dormir e a ver televisão (num estado vegetativo – não me interessava o que estivesse a dar. Desde que estivesse a dar qualquer coisa…). A primeira vez que me apercebi que estava “presa” num hospital foi um momento, à noite, em que as auxiliares apagaram a televisão eram talvez 22h. Não tinha sono e então comecei a pensar… e a chorar. Mas da minha voz saiam uns esgares horríveis, e quanto mais eu me ouvia, mais chorava. Devo ter acordado a rapariga com quem eu partilhava o quarto, não sei, mas aquele foi o momento em que me senti mais pequena, frágil, vulnerável, impotente, sei lá mais o quê do cosmos inteiro.
(Pausa para respirar…)
Eu fui operada de novo na 3ª semana. Tiveram que me fazer exames, um dos quais uma ressonância. Outro momento difícil. Primeiro meteram-me uma coisa qualquer por uma veia da virilha até à cabeça. Depois colocaram-me numa maca especial e deram-me uma injecção, disseram que era qualquer coisa para fazer o contraste, para de verem as veias no ecrã. Mas isto não me custou nada… Quando a maquina começou a trabalhar, isso sim, eram dores! Porque quando a radiação começava (para “tirar fotos” ao meu cérebro) começava a sentir a cabeça tão quente, mas tão quente que parecia que ia rebentar. E não foi só uma vez…
No dia antes da operação chorei um pouco. Lágrimas de crocodilo, estava com um receio inconsciente de qualquer coisa. Mas estava bem, confiante. No dia da operação estava um pouco nervosa quando me levaram para a sala em que preparam as coisas todas e me anestesiaram. Cheguei e vi que havia pessoas que, como eu, estavam a ser preparadas e outras que saiam do bloco. (Parecia hora de ponta…) Nem sei a que horas fui operada, lembro-me que era ainda de dia. A anestesia foi diferente (eu já tinha sido operada ao apêndice…) do que me recordava, foi mais lenta, e estava a ver a dobrar. Lá uma enfermeira (?) disse-me para fechar os olhos.
Acordei com a cabeça ligada e com uma dor miudinha por toda a cabeça, e achei que era melhor dormir. No dia seguinte acordei bem, estava feliz de ver a minha família lá.
As coisas boas (se é que se pode falar em coisas boas…)
Sempre fui muito bem tratada, por toda a gente. Falavam comigo, brincavam comigo. O apoio da minha família também foi muito importante, todos os dias esperava que viessem, com o seu cheiro a casa e com histórias da Mimi Siku (a minha gata). Fiquei surpreendida com o facto de amigos meus, alguns nem os via a anos, me virem visitar. Eram sempre uma surpresa agradável, traziam-me livros, bolos, sumos, mimavam-me até mais não. Foram todos eles que contribuíram para a minha confiança “Vai correr tudo bem”, e correu o melhor possível. Também houve amigos que não conseguiram ir ao hospital (ou por impossibilidade ou por medo) mas que sentia que eles estavam a transmitir energias positivas. Tenho de agradecer…
Ultimo dia
Eu não estava à espera de sair tão chego, mas ainda bem, pois começava a ficar ansiosa. Alguém veio ter comigo e disse-me que ia ter alta. Em altas estava eu! A minha mãe ficou confusa, eu ainda tinha agrafos na cabeça (33) e ela não sabia o que fazer comigo. Uma enfermeira esclareceu-a, e “ala que se faz tarde”! E ela continuou com medo… Isso já é assunto para outro post.
Pensamento final
Tive medo, tive dores, tive de lidar com muitos episódios embaraçantes, mas, talvez por não me aperceber do risco que estava a correr, nunca me vi tão optimista na minha vida.
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