Desabafos a um Estranho #1

Mimi Siku, o meu ídolo, a subjugar o Mundo


20 de Março
"Vi a minha vida num flash e cheguei à conclusão que vivia numa espera que algo de absolutamente fantástico acontecesse. Aconteceu, mas foi algo que não queria, e nem estava pronta. A ingenuidade acabou e sinto-me desencantada. Não parei de sonhar, mas sonho mais perto do mundo.Não me sinto bonita pois o meu corpo se tornou desigual. É triste dizer isto, mas é quase como se tivesse vergonha de mim... E padeço de uma sinceridade brutal que não me permite ver as coisas com cores alegres. O conceito vigente de beleza está cumprido, mas as feridas emocionais demoram muito a sarar, e por dentro ainda vivo com medo. "


21 de Março
"Tive um AVC à nove meses, por isso tenho muito tempo. Não me sinto bonita porque o meu lado direito ficou paralisado, e agora estou a fazer fisioterapia. Estou quase normal, mas agora falta-me a coragem, a paciência, falta-me um ser um pouco quem era. Sinto-me velha e cansada. Achas que me sinto bonita? Respondo-te agora sem rodeios nenhuns, não, não me sinto bonita porque o que quer que eu faça está lá o corpo a lembrar-me que coxeio, que tenho um braço que não se sabe comportar como um braço, não me sinto bonita porque as pessoas olhar para mim com pena e com uma curiosidade estúpida, e não, não sou bonita porque sinto uma raiva dentro de mim que não sai, e fica tudo aqui dentro. E é por isso que falo com estranhos, as pessoas que me rodeiam querem fingir que está tudo bem, por mim e por eles."


21 de Março – parte 2
"Acho que é esse o meu problema, ter de pena de mim. Quando estou sozinha sinto uma revolta tão grande, contra tudo, contra mim, contra as pessoas e, sobretudo, contra esta merda de sorte que me assola, porque por mais que tente ser feliz, não me consigo desligar deste problema porque ele está sempre aqui, nos meus movimentos, nos meus pensamentos. Estou a ficar ansiosa por ficar bem, pois isso significa a minha liberdade, e nunca gostei de ficar presa, nem a pessoas nem a sítios, e, de repente, vejo-me dependente das pessoas, quer a nível motor como sentimental, e não gosto, não gosto mesmo de precisar de alguém. Mas preciso (…) (estou á espera que alguém me venha salvar, salvar de mim própria, mas sei que isso é algo que só eu posso fazer. De certa forma queria partilhar este sufoco com alguém que não me dissesse "tens de ter paciência", foda-se, porque estou farta, farta que as pessoas sejam condescendentes comigo. Quero-me sentir mulher outra vez, e não um bichinho que não matas porque é frágil e não faz mal nenhum). "

24 de Março
"Meu deus, meu deus, com quanto sofrimento tenho que lutar? Ambos temos dores no corpo e na cabeça para nos fazer lembrar que éramos felizes… A nostalgia é o meu grande conforto e penitência, "lembras-te do quão eras feliz, Daniela? Lembras-te de todos te desejarem como fosses ar? Lembras-te das serenatas entre copos e poesia que te deixavam mais alegre, mais bonita, mais mulher?" Lembro-me disso tudo, e cada dia é mais um recordar. A esperança é real, mas quanto tempo? Quanto tempo mais vou ter de recordar até ter outra vez a minha vida? Engano-me, não quero a minha vida de volta, quero uma nova vida, uma vida que esperei sempre, quero ser vagabundo e amar, amar quem me quiser, o que me quiser. Antes tinha uma âncora imensa que me pesava, era o medo, medo de ser feliz, talvez. Medo de ficar tão feliz e cair. Mas cair já caí eu, e vejo agora que esses medos não me deixaram ser livre. Agora tenho uma âncora que é mais real. Então só me resta dormir e ver os dias a passar, porque cada dia estou mais perto de ser livre, e esta pausa, esta espera só me da vontade de dormir ainda mais para ver se chego lá depressa... Mas chegar lá aonde, e quanto tempo vou ter de esperar?

A espera dá cabo de mim... "Quero ser feliz, porra, quero ser feliz AGORA!!", já dizia o Zé Branco. Eu quero ser feliz agora.........."




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