Ataques epiléticos - A Aprendizagem
Foto tirada no dia 27-01-2008, quando estava nas Urgências
após o primeiro ataque epilético.
Desculpa. Mil desculpas por não me apetecer escrever. Dói-me o braço e a perna e o espírito – não quero acordar o fantasma, mas não consigo.
Tive outro foco/ataque/nervos/merda esquisita. Alias, duas vezes, uma no dia 11 e outro no dia 19.No dia 11 estava a fazer Terapia Ocupacional, estava divertida a fazer um jogo de bola, onde tinha que passar a bola entre as pernas e o tronco. De repente, deixo de sentir o lado direito. E aquela confusão… como se o mundo fosse descarregado dentro da minha cabeça, como se, por instantes, soubesse tudo o que há para fazer no universo e a informação fosse tanta que tinha de sair, ou rebentava. Sentei-me e pensei “vou ter outro”. Fiquei nervosa, confesso. Pedi à minha terapeuta Alice para de trazer a mochila. Abri a mochila a tremer e tirei uma metade de um comprimido. A minha mão estava a suar, tive que por o dedo na boca para que o comprimido de soltasse. Meti-o debaixo da língua, como me dissera a medica. E esperei.
(A espera é das coisas mais violenta que sinto…)
E aí começou a luta. “Relaxa, está tudo bem, isto vai passar…” pensei eu num acto de fé, pois era a primeira vez que usei a medicação para parar um ataque. O comprimido dissolvia-se, e eu sentia o sabor a papel por toda a boca, esperando que se fechasse os livros que rodopiavam na minha cabeça. Comecei a ficar sonolenta, tranquila, como se tivesse fumado um charro de erva. Depois veio o frio e a dor de cabeça. Isto significava que tinha acabado. Finalmente.
No dia 19 foi muito diferente. Estava em casa, a preparar-me para sair, e senti, antes de tudo, aquela confusão que come tudo, como se fosse um grande buraco negro a sugar-me para dentro de mim. Só tive tempo de me sentar e tomar o comprimido, pois o meu corpo estava a ser sacudido em ondas, pescoço – peito – nádegas – pernas – e vice-versa, e o lado direito recusava o movimento. Estava à espera daquilo, mas não tão hardcore. A minha mãe só deu conta quando foi ao quarto e viu que estava deitada ao contrário e com as luzes apagadas. “Está tudo bem, mãe, mas por favor vai-te embora porque me deixas ansiosa”, mas claro que ficou alarmada, a fazer-me perguntas. Quando estás a ter um ataque epiléptico começas a ouvir mal, como se a tua voz tivesse sumido e todos os outros ruídos fossem mais intensos, e é por isso que não gosto nem de falar nem de ouvir nada nessas alturas. Antes que me descontrolasse, mandei-a embora com um gesto brusco a apontar para a porta. Deve ser difícil para uma mãe não poder controlar o sofrimento duma filha. Da mesma forma que é difícil para uma filha apaziguar a sua mãe. No fim, veio a dor de novo, mas esta estendeu-se por 3 dias, e durante três dias eu senti-me mais lenta, menos perspicaz, mas o corpo deu sinais de tréguas; não sei que tem a ver ou não, mas cada vez que tenho uma crise, há algo que melhora. Por exemplo, já consigo escrever com a mão direita sem o apoio que torna a caneta mais grossa. E assim, de um dia para o outro.
Como vês, estou mais caustica que antes, em que estava feliz só por estar viva. Não quero ser mal-agradecida, mas preciso de mim de volta.
Tive outro foco/ataque/nervos/merda esquisita. Alias, duas vezes, uma no dia 11 e outro no dia 19.No dia 11 estava a fazer Terapia Ocupacional, estava divertida a fazer um jogo de bola, onde tinha que passar a bola entre as pernas e o tronco. De repente, deixo de sentir o lado direito. E aquela confusão… como se o mundo fosse descarregado dentro da minha cabeça, como se, por instantes, soubesse tudo o que há para fazer no universo e a informação fosse tanta que tinha de sair, ou rebentava. Sentei-me e pensei “vou ter outro”. Fiquei nervosa, confesso. Pedi à minha terapeuta Alice para de trazer a mochila. Abri a mochila a tremer e tirei uma metade de um comprimido. A minha mão estava a suar, tive que por o dedo na boca para que o comprimido de soltasse. Meti-o debaixo da língua, como me dissera a medica. E esperei.
(A espera é das coisas mais violenta que sinto…)
E aí começou a luta. “Relaxa, está tudo bem, isto vai passar…” pensei eu num acto de fé, pois era a primeira vez que usei a medicação para parar um ataque. O comprimido dissolvia-se, e eu sentia o sabor a papel por toda a boca, esperando que se fechasse os livros que rodopiavam na minha cabeça. Comecei a ficar sonolenta, tranquila, como se tivesse fumado um charro de erva. Depois veio o frio e a dor de cabeça. Isto significava que tinha acabado. Finalmente.
No dia 19 foi muito diferente. Estava em casa, a preparar-me para sair, e senti, antes de tudo, aquela confusão que come tudo, como se fosse um grande buraco negro a sugar-me para dentro de mim. Só tive tempo de me sentar e tomar o comprimido, pois o meu corpo estava a ser sacudido em ondas, pescoço – peito – nádegas – pernas – e vice-versa, e o lado direito recusava o movimento. Estava à espera daquilo, mas não tão hardcore. A minha mãe só deu conta quando foi ao quarto e viu que estava deitada ao contrário e com as luzes apagadas. “Está tudo bem, mãe, mas por favor vai-te embora porque me deixas ansiosa”, mas claro que ficou alarmada, a fazer-me perguntas. Quando estás a ter um ataque epiléptico começas a ouvir mal, como se a tua voz tivesse sumido e todos os outros ruídos fossem mais intensos, e é por isso que não gosto nem de falar nem de ouvir nada nessas alturas. Antes que me descontrolasse, mandei-a embora com um gesto brusco a apontar para a porta. Deve ser difícil para uma mãe não poder controlar o sofrimento duma filha. Da mesma forma que é difícil para uma filha apaziguar a sua mãe. No fim, veio a dor de novo, mas esta estendeu-se por 3 dias, e durante três dias eu senti-me mais lenta, menos perspicaz, mas o corpo deu sinais de tréguas; não sei que tem a ver ou não, mas cada vez que tenho uma crise, há algo que melhora. Por exemplo, já consigo escrever com a mão direita sem o apoio que torna a caneta mais grossa. E assim, de um dia para o outro.
Como vês, estou mais caustica que antes, em que estava feliz só por estar viva. Não quero ser mal-agradecida, mas preciso de mim de volta.
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