Desabafo #1

Preciso tanto de ti, tanto, preciso de limpar a minha alma e a minha cabeça, preciso de paz, muita paz, ou então um bocadinho, só, para me manter desperta, para aguentar mais um pouco, só mais um pouco… Queria respirar fundo uma vez só, abrir os olhos e ver-me a dançar como em tantas outras vezes, queria beber até ficar alheada desta merda toda, sim, merda, punhenta, broche, foda, putice, o que eu quiser porque sou eu que sinto, sou eu que vivo isto! Paciência? Paciência??? EU TENHO MONTES DE PANCIÊNCIA, SIM, EU TENHO PANCIÊNCIA, NÃO QUERES SER MEU AMIGO, SIM? Sim? Estou aqui tão sozinha dentro de mim, tão errante, tenho tanto medo! Estou cansada, estou consumida neste pânico, todos os dias o mesmo terror – o meu corpo não me compreende e as pessoas também não, que fazer? Diz-me, ou então rebento - e todos os dias a mesma farsa, “está tudo bem, tudo bem”…
Mais uma noite à espera, à espera de me compreender, mais um cateter, mais um TAC, mais gritos, gemidos, as pessoas sentem-se tão sós nas Urgências, tão assustadas… E eu ali, qual actriz daquela miséria humana, participante daquele ónus infernal, eu, tão pequena como se fosse um pássaro que acabou de sair do ovo. Não existe justiça poética merda nenhuma. E depois que nos apercebemos disso, deixamos estar, pois não existe nada que possamos fazer contra a puta de sorte que nós temos. Foda-se.

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