O Dia D
Era quinta-feira. O ano estava quase a acabar, e estava terminar um trabalho com uma amiga. Jantamos juntas, e estava ao computador quando me comecei a sentir mal. Pensei que fosse outro ataque de pânico, e levantei-me. Dei quatro passos em direcção à sala e caí. Não tentei levantar-me. Os rapazes com quem eu vivia saíram dos quartos e pedi para chamarem a ambulância. Nesse momento eu soube que estava algo de tremendamente errado. A Rebeca passou-me o telemóvel e expliquei o que estava a acontecer – comecei a sentir-me mal, tinha caído ao chão – e caí no erro de dizer que, por vezes, tinha ataques de pânico. A operadora diz imediatamente que era ansiedade. A sua voz era de enfado, como se ela estivesse todo o dia a dizer a mesma coisa. Eu estava a tentar explicar que nunca tinha sentido nada assim, mas a minha voz não correspondeu – ao invés balbuciava letras sem nexo, como se o alfabeto andasse a correr na minha cabeça, perdido. Passei o telemóvel à Rebeca e ela acabou o telefonema. Segundo a operadora o meu mal era um ataque de pânico, que eu devia deitar-me e relaxar. Ela não sabia o que era isso, e era perfeitamente credível que fosse esse o meu problema. Eles aconselharam-me a fazer o que a operadora tinha dito, mas sabia que se passava algo. O problema era que não conseguia falar. Tentei pedir aos meus amigos que telefonassem a um táxi, e só compreenderam quando comecei a gritar com o telemóvel na mão.
A Rebeca calçou-me os ténis e fui a braços (porque não conseguia andar de maneira nenhuma) até ao táxi. Quando o taxista me viu disse prontamente que não me iria levar pois caso acontecesse algo no carro ele seria responsabilizado por isso. Lembro-me de ter pensado “deixa-te de merdas e leva-me ao hospital!”. Estava farta de tantos mal entendidos. O Nuno falou com o taxista e ele concordou levar-me. Assim que chegamos ao hospital senti-me calma. Tinha a cabeça encostada ao colo da Rebeca, parecia que estava noutra dimensão, via tudo diferente, como se tivesse uma película transparente sobre os olhos. Já estava sem ver do lado direito, mas não me apercebi. O segurança aproximou-se, mas não me lembro o que disse. Passado algum tempo vieram buscar-me, estava dentro de uma sala quando comecei a vomitar, vezes sem conta. Foi aí que perdi a consciência.
O resto foi a minha mãe que contou. O Nuno telefonou para a minha irmã a dizer que eu tinha ido para o hospital. Ela julgou que fosse mais um ataque de pânico e não se alarmou, em parte porque a minha mãe estava a dormir pois ia trabalhar ás 5 horas da madrugada. Eram 1 ou 2 horas quando o Nuno telefonou de novo para avisar que eu tinha sido levada para Leiria. A minha irmã acordou a minha mãe e foram para o Hospital de Santo André. Quando lá cheguei ninguém sabia dizer o que me tinha acontecido, mas desconfiavam que fosse uma hemorragia cerebral. A minha mãe julgava que tinha tido um esgotamento nervoso, devido ao meu estilo de vida. Os bombeiros trouxeram-me e a minha mãe teve a oportunidade de me ver. Estava cheia de tubos, quase amarela. Depois fui levada para Coimbra. Não deixaram que a minha mãe fosse pois a ambulância estava cheia de médicos. Não consigo imaginar a aflição da minha mãe naquele momento, sem saber o que se passava, sem poder vir comigo. Em Coimbra fui para os Cuidados Intensivos, depois de ter passado por um quarto. Viram que o meu estado era de risco. No hospital só deixaram o meu padrasto entrar, a minha mãe estava em pânico. Estava ligada a imensos fios e tubos, como uma marioneta. E era, de facto. Esses tubos e fios ajudaram a dar-me vida.
19/06/07
A Rebeca calçou-me os ténis e fui a braços (porque não conseguia andar de maneira nenhuma) até ao táxi. Quando o taxista me viu disse prontamente que não me iria levar pois caso acontecesse algo no carro ele seria responsabilizado por isso. Lembro-me de ter pensado “deixa-te de merdas e leva-me ao hospital!”. Estava farta de tantos mal entendidos. O Nuno falou com o taxista e ele concordou levar-me. Assim que chegamos ao hospital senti-me calma. Tinha a cabeça encostada ao colo da Rebeca, parecia que estava noutra dimensão, via tudo diferente, como se tivesse uma película transparente sobre os olhos. Já estava sem ver do lado direito, mas não me apercebi. O segurança aproximou-se, mas não me lembro o que disse. Passado algum tempo vieram buscar-me, estava dentro de uma sala quando comecei a vomitar, vezes sem conta. Foi aí que perdi a consciência.
O resto foi a minha mãe que contou. O Nuno telefonou para a minha irmã a dizer que eu tinha ido para o hospital. Ela julgou que fosse mais um ataque de pânico e não se alarmou, em parte porque a minha mãe estava a dormir pois ia trabalhar ás 5 horas da madrugada. Eram 1 ou 2 horas quando o Nuno telefonou de novo para avisar que eu tinha sido levada para Leiria. A minha irmã acordou a minha mãe e foram para o Hospital de Santo André. Quando lá cheguei ninguém sabia dizer o que me tinha acontecido, mas desconfiavam que fosse uma hemorragia cerebral. A minha mãe julgava que tinha tido um esgotamento nervoso, devido ao meu estilo de vida. Os bombeiros trouxeram-me e a minha mãe teve a oportunidade de me ver. Estava cheia de tubos, quase amarela. Depois fui levada para Coimbra. Não deixaram que a minha mãe fosse pois a ambulância estava cheia de médicos. Não consigo imaginar a aflição da minha mãe naquele momento, sem saber o que se passava, sem poder vir comigo. Em Coimbra fui para os Cuidados Intensivos, depois de ter passado por um quarto. Viram que o meu estado era de risco. No hospital só deixaram o meu padrasto entrar, a minha mãe estava em pânico. Estava ligada a imensos fios e tubos, como uma marioneta. E era, de facto. Esses tubos e fios ajudaram a dar-me vida.
19/06/07
Comentários
Lembro-me de olhares para mim e de pedires algo, não percebia o quê.
"Deve ser um ataque de pânico". Como podiamos pensar noutra coisa? E de facto havia pênico no teu olhar.
Não me vou esquecer dos teus olhos.Com tropeçoes de poucos minutos (uns 2/3 minutos) mas que pareceram muitos mais, saí a correr sem parar buscar um taxí. Ele não estava a perceber primeiro e depois não gostou da ideia. Ele também não percebeu a gravidade da situação. Nem nós a sabiamos.
Lembro-me depois de ter sido tudo mt confuso e rápido, um borrão de memórias: não conseguiamos por-te a andar, nem sempre estavas consciente. Peguei-te ao colo, parecias um pardal ferido. Ficaste tão pequena e tão frágil.
De resto não sei, fiquei em casa à procura de documentos, depois voltei para a mediação. O Pedro também confuso foi tb ter ao hospital com mais medicamentos que tinhas por casa (drogada do caneco).
Quando te voltei a ver foi um alivio.
Já deveria saber: és dura de roer rapariga. Pena não haver mais umas poucas como tu.