Reflexão nº1

As coisas as vezes são tão difíceis… Não me queixo, mas às vezes bate uma saudade tão grande da vida que levava… Não quero ser ingrata. Mas vejo-me aqui, trancada da Marinha Grande (my hometown), sem puder guiar, sem puder andar sozinha… Às vezes sinto-me como se a minha vida estivesse em pausa, assim, suspenso, sem ruído nem cor. “O espaço é de todos, o tempo é só teu” dizia-me a Carina, e eu vivia tão depressa que nem via o tempo passar. Tenho 21 anos. Só. Já. Não sei… Anda aqui um turbilhão de sentimentos tão intenso que às vezes sinto-me a pessoa mais completa do mundo. Mais completa que o próprio mundo. Outras vezes sinto uma melancolia tão bela que me sinto uma poetiza a escrever um poema. E o que ela sente não é satisfação, é a mortificação do seu Ser, uma vez mais e outra vez, até aceitar. A solidão é uma coisa curiosa. De longe, eu estar sozinha, ou até mesmo desamparada. Falo de uma solidão espiritual, como se ninguém no mundo estivesse perto de imaginasse o que sinto. Por muito que os médicos, terapeutas, famílias, amigos estejam sempre ao nosso lado, há uma solidão incrível neste processo todo de recuperação. Ouço milhares de conselhos todos os dias, e só os ouço por consideração, pois todos os conselhos carecem de verdade. Cada caso é um caso, cada mente é uma mente, e eu nunca me senti tão só na minha vida. Sinto-me só de tudo, das saídas, das viagens, das paixões, da minha perspicácia mental, do movimento do meu corpo… A minha vida agora parece uma sucessão vezes sem conta da mesma semana, com progressos, evidentemente, mas é precisamente a mesma coisas há 6 meses, que foi quando iniciei a terapia. Nunca pensei dizer isto, mas sinto falta do palco e dos olhares estranhos, da transformação de toda aquela energia numa só, numa promiscuidade metódica. E agora é que precedi que tenho andado à procura disso num Ser… É por isso que os actores ficam sempre sozinhos por entre relações fugazes. Não existe nenhum Ser capaz de colmatar essa energia, do olhar do actor sobre o olhar do espectador. Por isso é que digo que este blog é feito para ti, a pessoa que me lê.
Esta foto foi tirada pelo Gonçalo, no meu último trabalho, "Quando nós, os mortos, despertarmos..." de Henrik Ibsen. Não deixa de ser uma mórbida curiosidade...
(Este post é para todos, mas em especial para o João Garcia Miguel, Margarida Tavares, Rogério Nuno Costa, Guilherme Mendonça, Miguel Borges, Miguel Clara Vasconcelos,Margarida Lobo, Rui Leal e João Caridade.)

Comentários

Anónimo disse…
A tua dádiva quase que nao existe, nao é comum, entre as pessoas que conheço.Dádiva porque pareçe me verdade que o que estás a escrever é para quem o lê, como é o meu caso quando vejo o blog.Nao te quero dizer as coisas que admiro em ti, pois há imenso tempo e as palavras assim em espaço computador as vezes perdem muito.
será que entendes como para mim,por exemplo, me faz sentir mais vivo tudo o que dizes?tenho vindo ver o blog,e continuarei a vir porque no fundo isto é para mim(entre outros) como tu dizes.tu aqui em presença bruta.agradeço te isso
Manuel
lembro me tanto das Caldas, gostei muito de ver a foto contigo e a Margarida.

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