Coma

A última coisa que me lembro era de estar a vomitar numa maca, rodeada de enfermeiros e médicos. Depois, quando acordei, pensava que tinha dormido umas horas, ou a noite inteira. (Tinha estado em coma de nível 3 - eles lá sabem o que é… - o que quer dizer que estava muito irrequieta, sobretudo quando tinha visitas. Só souber do coma uns dias após ter acordado.) Sabia que não estava em casa, mas não reconheci aquele lugar como um hospital. O mais estranho foi ver o meu pai; ele estava a olhar para mim. (Um aparte: o meu pai não vive comigo há 15 anos e, além disso, ele está na Alemanha há uns 13 anos…) Pensei que estava a sonhar, mas tinha quase a certeza que não. Estive em coma 13 dias. Nos últimos dias de coma (1 ou 2), nos Cuidados Intensivos estava sempre a acordar e a adormecer, tinha a sensação de que estava assim há dias, não sei se me davam alguma coisa para dormir ou se era mesmo natural que assim acontecesse. Depois que me apercebi que não conseguia falar, comecei a ficar ansiosa, sobretudo porque queria saber onde estava e não conseguia perguntar nada a ninguém. E todas as vezes que acordava chorava, até que a vi a minha mãe, com uma bata. E foi só aí que percebi que estava no hospital, por causa de um bordado da bata. Entre muitas letras tinha um “H”. Ainda não sei como reconheci a letra “H”, que foi das letras mais difíceis de reaprender… De repente começou tudo a fazer sentido; o porquê de ter qualquer coisa enfiada pela garganta abaixo (e então deixei de o tirar); o porquê de me amarrarem o braço bom (para não tirar os tubos); o porquê de ver o meu pai. Deram-me um iogurte para comer e, quando dei por mim, estava num quarto. (Um tempo mais tarde, deram-me o jantar. Era frango. Estava a sentir-me estranha… Até que no dia seguinte me lembrei que não comia carne há 4 anos…)Entretanto, já em recuperação, foi visitar um querido amigo meu, o Zé (que é médico também) e ele perguntou-me se tinha ouvido alguém, ou visto algo. Eu disse que não. Um ou dois meses mais tarde, estava a ouvir uma terapeuta a falar sobre casos de pessoas que estiveram em coma, e lembrei-me nitidamente de pensar que estava a falar com a minha mãe, e não perceber o porquê dela não me responder. Foi aí que me comecei a lembrar de coisas, de ouvir a minha mãe a falar-me da minha gata e, o mais incrível foi de ter noção o espaço onde estava a minha cama, e de ver aquele espaço de cima. Vi a minha mãe a falar comigo e eu lá deitada. Não sei se isto já é imaginação ou não. Tenho que voltar lá para ver se o espaço é o mesmo…

Comentários

Anónimo disse…
És muito forte, linda. Vi isso logo no primeiro momento em que te ouvi falar (só dizias asneiras, literalmete: caralho, foda-se, etc).
Ainda bem q recoperas-te, fico mt feliz, o mundo iria sentir mt a tua falta!
Fiquei mt comovido com tudo o q li...mas q se foda, não é pena, foi apenas a tua frontalidade, q amo mt!
Continua assim, forte, e tudo vai correr bem.

Beijo grande do Bruno (sexyMF)

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