O luto (ou a solidão acompanhada)
Estou quase sem ar. Perdi o meu Boris. Estava a vestir-me para apanhar o expresso quando dei falta do meu fio, que tiro para tomar banho e, que religiosamente coloco depois de me vestir. Faço-o à 3 anos, tiro-o para dormir e coloco-o quando acordo, tiro antes e depois do banho e é só. Ensaio com ele, faço espetáculos com ele e, se não o puder ter, faço com que alguém da minha mais alta confiança o tenha. Nesse fio estão cinzas do meu Boris, o meu menino amado que mesmo após a sua partida me continua a acompanhar. Hoje, repetindo o ritual, não o encontrei. Primeiro uma angústia leve, pondo em dúvida o meu siso (apesar de saber, porque o faço sempre da mesma forma, que algo de tremendamente errado se estava a passar), irrompe o desespero e, ao pedir ajuda só encontrei julgamento. Eu não queria saber se tinha sido eu a perdê-lo, só o queria de volta (ou pelo menos saber onde estava). Ao preceber que não o iria encontrar a tempo de o levar comigo, o desespero tomou conta de mim, chora...