Carta #2

Uma gargalha envolta em vómito curva-me. Anseio por um cigarro, tens?
Não, eu seu que não sou prefeita. Já o fui, e sê-lo acaba por ser aborrecido. Salto para não pisar o conteúdo dos meus armários que se estendem pelo chão. Não adianta meter tudo em ordem. Nem quero ordem, quero entregar-me ao caos pois ele leva-me nas suas aventuras loucas. Para quê o amor? Será apenas uma amarra, mordaça, cinto de castidade. Nada mais. O amor deita-se com o inimigo logo não o quero mais.
Sou livre dentro deste corpo que me prende. Não deixo de o ser. Nem as pessoas que passam pela minha vida me apanham. Não fujo mais de mim pois sei bem quem sou. Consciente, com um olhar cansado sobre as pessoas e as suas ligações, pairo sobre todos como se fosse invisível. Como que a fintar a chuva; acabamos molhados. A diferença é que olho para o céu para sentir com violência a queda das gotas que me arrefecem os glóbulos oculares.
Já aprendi a cair. Caio como os gatos, velozmente me ergo e sacudo o sangue das mãos. E, de cabeça baixa, olhos no céu, pairo sobre ti e sobre mim e sobre todos os outros seres e sobre todas as outras coisas pois uma vez não existi.      

10 Maio 2016 - 22h35
Musica - Burning Skies - Tones on Tail

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