Revolta e Rendição

Esta é um post sobre revolta.


Passo horas na net. A maior parte do tempo, a ver viagens. Sinto-me um cão amarrado à trela em que só se pode afastar de casa uns metros. Fico nervosa quando saio sozinha à rua. Sinto que a trela me está a asfixiar, como os cães que dão muitas voltas à corrente e depois fica só com 30cm que só servem para se sentar. E ficar a ver se alguém repara que está preso. Horas. Dias. Provavelmente a sua maior satisfação era correr um pouco no parque, comer lixo e mijar em todas as árvores. Mas ele já desistiu, e passa o tempo a não se debater para não enrolar a corrente.

E fica a ver a chuva na casota. E o calor abrasador que o faz deitar-se na terra. Mija-se quando uma criança o afaga. Olha para o horizonte sem saber o que é.


É a vida que teve. Lembra-se de quando era cachorro e andava sempre com os donos. Gostava de pôr a cabeça fora da janela e levar com o vento até lacrimejar. Gostava de vadiar horas infinitas com os amigos, à procura de divertimento. Gostava de ir até ao monte da igreja de Nossa Senhora à noite.


As coisas simples.


Ladrar da janela do carro parvoíces em Leiria. Ir a uma bomba de gasolina comprar cerveja, batatas fritas e chocolates. Tomar um café. Jantares regados a vinho carrascão. Os miúdos. Andar de mochila ás costas enquanto chove. O fogo nas correntes que manuseava. Aquela tarde na Figueira da Foz, sentada na areia, com oito bolas a sobrevoar o espaço. Tantas outra a beber katempo e a comer tremoços ás 4ªs feitas à noite. Sudoeste 2001. O almoço em que decidi não comer mais carne. O meu 18º aniversário com a Inês a conduzir a 120 km/h enquanto o Pida cantava “o bacalhau quer alho”.


São tudo fragmentos. Cacos espalhados numa memória selectiva que teimam em não se unir e dizer “podes continuar a tua aventura”. Ou será que não tenho ainda coragem suficiente para olhar para um futuro? Sonhar e acreditar que as coisas irão acontecer?

Estou cansada. Tenho que dormir. Amanhã, terapia. Sábado, não sei. (Tive agora a imagem de uma pessoa que anda, e cada pedra lhe vai sendo posta quando os pés estão assentes na ultima pedra. Consegues imaginar? Como num jogo de computador…)

Isso não importa quando temos um objectivo na viva. Andar pé ante pé, porque sabemos mais ou menos onde vamos chegar. Eu tenho um novelo e mil pedras confusas para seguir.

Comentários

joão caridade disse…
dá me a tua morada sff, que eu já enviei o caderno com as moradas.

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