O meu amigo Zé

E é fim-de-semana!! Posso finalmente ter comidinha da mãe na mesa, ficar na cama até ao meio-dia, dar uns beijos à minha gata…

"Ah, todo eu anseio por (...) aqueles momentos em que não tive importância nenhuma, aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender! E havia luar e mar e a solidão, ó Álvaro...” (não gosto da pontuação do Fernandito mas, bom, o que interessa – para além do meu mau feitio – é que este excerto me faz cada vez mais sentido… Ou outro sentido. O Mário Cesariny tinha mais mau feitio “O Álvaro gosta muito de levar no cu”, dizia. Vou deixar os julgamentos ao vosso critério… Mas devo dizer… O Mário rula!!)

2ª fui a Lisboa ver o médico que me acompanha desde os 18. Encheu-me de esperança e optimismo, estivemos pouco mais de uma hora a falar. Mais força para continuar, estava a precisar de uma maneira brutal. Claro que sempre que venho para a Marinha ficou um pedacinho mais em baixo, mas… C’est la vie. Continuo com mil coisas que gostaria de fazer AGORA, mas começo a compreender cada vez mais o DEPOIS, o não imediato. Não quer dizer que isso seja menos doloroso. Continuo a desejar que a recuperação se faça depressa… A minha mãe no outro dia disse-me na brincadeira “entretanto fazes 23”, e o mundo parou na minha cara; VINTE E TRÊS??? Sinto-me uma velha com corpo de adolescente. E já reparei que ando um bocado ás aranhas com a minha identidade; não sou bem aquilo que era, mas também não sei bem o que sou, parece mesmo que estou numa espécie de segunda adolescência.

“Menos uma semana”, dou por mim a pensar naquela meta imprecisa, de “quando estiver bem…”, mas não sei o que é o “bem”, “bem” para trabalhar? “Bem” para conduzir? Ou um “bem” que não faz qualquer sentido quando se sobrevive a uma doença tão má e em que temos de estar gratos por estarmos vivos?
Tenho a doença de querer sempre mais e mais e mais, e a meta de ontem já foi ultrapassada. E se a de hoje não for, amanha será. Esperança e obstinação e… Paciência, sobretudo. O que falha ás vezes, naqueles momentos de puro descontrolo. O meu médico/ amigo/ confidente/ feiticeiro Zé apaziguo-me dizendo que é legitimo o que sinto. Foi a primeira vez que ouvi isso, e tirou-me um peso de cima. Tenho o direito a fraquejar, finalmente deixei de me sentir culpada por ás vezes não aguentar.
Amanhã há-de ser um novo dia. E se não for um dia bom, o outro será. Até à tal meta. A meta em que me vou sentir verdadeiramente feliz, demore o tempo que demorar.



Foto do Gustavo

Comentários

Mensagens populares