Re-Cobro Re-Volta

Estes últimos dias foram dos mais intensos que alguma vez vivi. Ainda estou a processar, mas com a quantidade de comprimidos que tomo é difícil. Eles retardam a rapidez normal do pensamento e eu não consigo deixar de pensar e penar. O sentimento de arrojo é originado pelo medo, e ao medo se regressa quando cais em ti e te começas a aperceber do que te rodeia. E não é mais do que medo, o medo recalcado naqueles meses todos em que me sentia feliz – em que não pensava, em que não ansiava, em que tinha certezas, em que era não mais do que um fragmento do que era, a apanhar cacos de mim perdidos no meu cérebro. Mas agora sei, sei demais, sinto mais do que o meu corpo suporta.
Eu, Daniela Maria Morganiça dos Reis, 22 anos, natural da freguesia da Marinha Grande, a viver actualmente nas Caldas da Rainha, começo a duvidar da minha integridade mental após quase 15 meses de ter sofrido um AVC hemorrágico devido a uma malformação congénita. Admito-o sem qualquer problema. Quem és para me julgar? Sinto-me revoltada com o destino ou coincidências, deus ou azar, a minha insurreição tem um só rosto:


O rosto de quem se queimou na alcatifa do quarto depois de ter acordado a ter um ataque epiléptico e se levantou com a cabeça a incendiar-se de mil fragmentos de imagens, palavras, sons. Estava tão perdida que comecei a beber água sem motivo, e foi aí que me sentei e caí redonda no chão, mesmo de cabeça, e o meu ultimo pensamento – e isto é mesmo verdade – foi: “estou fodida.”
Minutos depois levantei-me inconsciente e fui à casa-de-banho. Não conseguia andar e o meu namorado levou-me. Voltei para o quarto e “adormeci”, só para acordar minutos depois, consciente, sem saber onde estava e o que o meu namorado fazia ali.
Depois, bola de neve, medo, medo, medo, medo até de sair à rua, medo de sair da cama.


É agora. Hoje anuncio a minha mediocridade perante ti que me lês, e anuncio também (caso ainda não tenhas reparado…) este aspecto masoquista que tenho de escrever toda a merda que me acontece, portanto isso faz de ti um sádico.

Comentários

Anónimo disse…
Pensar, pensar e pensar... o malfadado segundo estágio, agora que já estás com uma vida (quase) normal. Surgem as preocupações, as ânsias de se retomar o que se deixou em suspenso, a incerteza das acções. Por em causa, por sempre tudo em causa. Não é sinal de fraca integridade mental, muito pelo contrário. A dúvida é essencial, e só demonstra o grau de consciencialização que tens, prejudicada ou não pela medicação.

Um registo da tua vida, este blog cresce com os teus sucessos e insucessos, seguranças e medos. Masoquistas são apenas aqueles que aqui vêm mesmo não lhes agradando o conteúdo. Tu és apenas tu, espelhando aqui o que te vai na alma. É uma necessidade de desabafares para contigo própria, tendo-nos a nós como público. Público esse que te visita seja por curiosidade, cusquice ou outro motivo qualquer.

Choque a quem chocar, este blog é a realidade nua e crua, sem qualquer tipo de embelezamento ou pós-produção. E enquanto assim for, serás autêntica para ti e para todos aqueles que te lêem.
Marciano disse…
Foge do medo!É um inimigo cruél que se nós deixarmos, suga-nos até ao tutano.
Pontapés no medo, o melhor remédio.
Força rapariga! Sempre tiveste muita força e também bons amigos.
Que a força marciana esteja contigo! :)
nuno medon disse…
Olá! Lamento que te tenha dado um ataque epiléptico e que tenhas queimado. As melhoras para ti! Fazes bem em escrever no blog. E como tens namorado e amigos perto de ti, eles vão de certeza ajudar-te a ultrapassar o medo. Por incvrível que pareça, aos 20 anos ainda tinha muito medo de cães. Apanhei um susto aos 5 anos. O que decidi fazer para deixar de ter medo? Quis um cão ( entretanto já faleceu ) e ele ajudou-me a ultrapassar o medo. Quando vejo um cão na rua, já não tenho que fugir dele a sete pés. Beijos, força!

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