Alpinismo (com pesos nos pés)

E nisto tudo, já passou meio ano. Estes dias têm passado rápido, na pressa de cair na cama ou na angústia de não conseguir dormir. Dos dias de correria anseio por uma pausa e, sobertudo, de uma luz.

Este grito de Ipiranga está a ficar-me caro, mas nem por isso deixarei de insistir. E escrevo aqui, exausta, com uma dor de cabeça que se prolongada há dias, de lágrimas pronta, frustrada e triste. No entanto das tantas coisas maravilhosas que vivi só de Janeiro até agora, os obstáculos são montanhas e já me falta o oxigénio. Este grito vai-me custar o que me resta da minha rede de apoio, receio. Só queria a minha vida de volta, mesmo que difícil. Às tantas, de tanto me defender, afasto. De tanto ouvir, falo e estou tão cansada de ouvir como de falar, como de ter ou não razão, que fiquem com tudo isso e com as vozes de anos que ainda hoje me ecoam na cabeça intrusivamente e op! Disciplina! Conta até dez e diz bem alto que não és os que as vozes te dizem. Ou sou? Talvez esta luta não me sirva, mas eu só queria ser vista inteira. Talvez ninguém me vê assim porque não o sou.

Vim tarde para a festa e aparte do trabalho e das minhas meninas, não encontro muita felicidade. Falhei o 3. aniversário da minha menina do meio. Falhei à minha irmã, amiga. Uma confusão, um labirinto de vontades alheias acima e eu no meio, sem saber para onde me virar. Chamei egoísta à minha mãe. Poderia desculpar-me com o contexto mas não farei. Não importa mais. 

No auge destes dias cinzentos, só desejo partir. Não importa para onde, longe e por muito tempo. Quero pousar a espada, já mal posso com ela. Quero dormir uma semana, um mês, ate que o peso que carrego fique mais leve, desapareça. 

Curioso como estas inquietações se arrastam ao longo dos anos e PUFF! tenho 39 e continuo sem saber o que fazer, ou como o fazer, ou como ganhar forças para o fazer. Não é por falta de tentativa (imagina o que é escalar uma montanha com pesos nos pés). Talvez uma alavanca me liberte, como Irene, a Estrangeira de Ibsen.

Não consigo sentir uma nesga de orgulho por todo este caminho feito até agora. Talvez não importe. 

Desculpa a confusão, tenho os pensamentos embolidos, um abecedário de tangentes que já não consigo seguir (e será que vale a pena tentar sequer?).

Uma notícia boa (ou insensata), comecei a fazer o desmame do antidepressivo (com aprovação e seguimento médico, claro), 18 anos depois. Talvez o melhor mesmo seja ficar na caverna durante este processo. Perdoem-me. Sou muito mais incapaz do que possa aparentar.


Cenas feitas por aí, num festival num país da ex URSS. Março 2025.

Foto: Marlene Leppänen

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