Reflexão #248

São 3h22. Quero dormir, mas a cabeça não me deixa repousar. Estou numa agonia tremenda, com qualquer coisa que não sei ainda o quê. Sinto-me a cair, para onde não sei. Estou farta. Digo isto repetidas vezes à minha mãe. Farta de estar assim, farta de não poder correr atrás dos meus sonhos como qualquer puto da minha idade. Sinto-me injustiçada pelo destino, vida ou deus, não sei mais em que acreditar. Todos os planos que fiz, todas as certezas, toda a minha felicidade mudaram. Não posso contar com mais nada para além deste dia que estou a viver, sem planos não posso sonhar da forma que sonhava.

Hoje admito, acho que merecia passar por isto. E acho isto de uma forma egoísta, mas também não quero saber. Torna-se difícil ver sempre o lado positivo das coisas, por mais que queira. Sou mal interpretada pelo meu corpo, e vivo sempre atemorizada por ele. No fundo, continuo à espera de um milagre; acordar um dia e sentir que tudo acabou, que estou normal outra vez e poder fazer todas as coisas que evito pensar. Para não ficar ansiosa.

E os dias seguem-se e agora começo-me a aperceber que já passou muito tempo. As roupas que visto são as mesmas roupas que vestia no 2º, 3º ano do curso porque a única roupa que comprei eram fatos de treino para fazer terapia. Digo, às vezes na brincadeira, que comecei o 2º ano do curso de Reabilitação. Na verdade, é isso que penso; é certo que sou nova, mas comecei o 2º ano de terapia quando poderia fazer mil coisas para além deste monólogo interior que não cessa de me assustar. Chego muitas vezes a pensar que estou a enlouquecer. Por isso escrevo. Para exorcizar este horror que é ter um corpo que não controlo, e na esperança utópica de um resgate.

Estou em descrédito e enraivecida. Os sonhos, os meus sonhos não valeram de nada, o meu esforço, a minha fé nas coisas e no Mundo desvaneceu-se. Isto está-se a tornar muito doloroso…

Comentários

Anónimo disse…
Não faço a menor ideia da dimensão de tudo aquilo porque estás a passar. Procuro imaginá-lo, mas nunca lá chegarei. Não adianta também procurar animar-te com uma lista inconscientemente pré-feita de discursos positivistas, de palavras de ânimo disparadas sem sequer se saber ao certo o que se está a dizer. Já deves estar farta de ouvir pessoas a tentar animar-te, quando não possuem a real noção de tudo aquilo porque passaste, passas e vais passar.

A única forma de tentar compreender minimamente o que estás a sentir é imaginar-me agora, na minha situação actual, uma fase em que só esboços de planos sonhados (mesmo que ingénuos) me podem dar algum ânimo para as dificuldades que se avizinham. Estou prestes a dar um pulo para o desconhecido, cheio de obstáculos mas igualmente promissor... por mais que tente, não consigo imaginar a totalidade da dor que seria, a de cair a poucos centímetros de dar o salto. Foi isso que te aconteceu.

Contudo, ganhaste uma experiência de vida, uma sensibilidade de tudo o que te rodeia, que raras pessoas têm. Vejo-as (eu incluído) a perderem tempo com assuntos tão desprovidos de importância que não se apercebem do verdadeiro significado das coisas. Quando olho para ti, vejo-te a dar importância ao que realmente merece ser digno de atenção. A saborear a vida de uma forma simples, mas rica.

Perdeste muito, é certo. Contudo ainda tens um propósito, e todos os dias lutas por ele. Aos poucos, seja a que ritmo for, vais ganhando com a vida. E para ti, ainda nenhuma porta se fechou definitivamente. Continua a levar as coisas com calma...um dia de cada vez, re-inventando o quotidiano com o humor que lhe costumas dar.

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