Obrigatoriedade de perfeição
Tenho tido dores. Nada de novo, é apenas o declínio já esperado. Hoje, especialmente, doi-me a cabeça. Não excepcionalmente dói-me o torso, costelas do lado direiro. Anos de má postura, desequilíbrios musculares, esforço constante. O acesso à saúde aqui no centro do país é uma piada. O meu médico de família não saber de exames que lhe peço - o último foi o exame no centro de mobilidade. Este exame só é feito em dois centros de reabilitação no país.
Fui adaptar o meu carro e tive que ir a lisboa. Leiria já teve, mas já não tem. Hoje fui ao IMT holmolgar as modificações. Esta brincadeira (para conseguir conduzir sem ter que cruzar as pernas) ficou-me por xxx€ (xxxx€ na verdade, contado com todas as despesas associadas). Só para ter o privilégio de conduzir (sim, continua a ser um privilégio).
Tenho estado em períodos de confusão, nunca tinha experciado isto. "Tira umas férias" - como posso tirar férias de mim?
Hoje tive uma epifania tão grande que me assustei. Que é só a reacção física nos métodos de morte que me aflige. A morte per se, parece-me um alívio - aquele que senti no coma e que não sei como expressar. Olho para o mundo e não quero fazer parte disto.
Há pouco tempo, também, tive outra epifania - que sou adulta, e que não somos mais que adolescentes frustados (mas a culpa é do outro, seja o outro o que for).
Passei um vida a tentar o meu máximo e já não consigo muito mais. Estou com demasias dores e, convenhamos, as minhas dores não vão desaparecer com calores no polidianostico nem com hidroginastica no São Francisco - e não tenho como ir para onde possa tratada para isto.
Isto será só o corpo. A cabeça não está melhor. Por vezes olho para um futuro e, a avaliar pelo trajeto, instala-se logo um desespero.
Seremos dos primeiros a ser sacrificados (já o somos). A nossa existência é um desperdício de dinheiro dos contribuintes, aos olhos da maioria da população. Não queria ter que lutar tanto em todas as frentes. Estou mais que sobrecarregada. Quero sair. Não consigo mais erguer a cabeça. Quero ter o privilégio de dizer "não consigo" e não ter ninguém a contradizer-me. Porque "pareço bem".
Deixem-me falhar e desistir. Peço-vos.
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