Equinócio da Primavera

Não cheguei a falar no meu Equinócio. Eu e o Gustavo tínhamos pensado, meses atrás, acampar para dar as boas vindas à Primavera, ás flores tímidas que anunciam sempre mudança. Não fomos porque o tempo voa mais depressa que as cores das flores e, quando dou por mim, é sexta e estou nas Caldas. Arranjo um bilhete para ir ao teatro. Vou sozinha, como sempre. O vermelho sem intenção, faz jus à estação. No teatro um mar de caras conhecidas.

Em palco, um amigo. Uma energia estranha. Uma conversa que me fez estalar o escudo. Senti-me fraca e nua em mim mesma.

Budapeste chama por mim, eu chamo por Budapeste com bilhete de ida. E volta. Para tentar lutar este estado letárgico agudo. Primavera, e eu continuo cada vez mais amarga, cada vez mais ofendida por tudo e com todos. A vida é o reflexo das nossas vitórias e falhas. Eu passei uma vida a tentar ser a melhor em tudo. Para provar, não aos outros, mas a mim que era capaz de ser outra pessoa, uma pessoa melhor. Sempre senti medo de não agradar. Tinha um plano de vida muito bem elaborado. Tenho um curso muito jeitoso, na teoria. E vivi entre esse curso, entre tremoços e vinho mau, risos e lágrimas sentidas. Recordo agora com os poucos amigos que ficaram dentro de mim, os momentos que ficaram, e eram tão simples como comer uma sopa alentejana num café ou ir a um armazém de roupa em segunda mão admirar os vestidos dos anos 70, que parecem ter saído de um guarda-roupa de um teatro. Do que aprendi na escola, pouco me lembro. Mas lembro-me de como se costura à maquina, como se modela balões, como se prepara pasta de grão.



(Estou farta de escrever sobre isto. Isto tudo.)

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