A expectativa deixa-me doente
Quando eu pensava em ir á praia, nunca me pus a pensar no COMO. Acontece que estou mesmo farta de boleias, de me sentir dependente, de precisar de pessoas para fazer seja o que for. Já consigo conduzir, o problema está no braço – tenho de olhar muitas vezes para a mão direita (manipulo das mudanças) para me certificar que tenho a mudança posta ou não, porque eu não sinto o suficiente para me aperceber disso. Se tivesse um carro automático o problema estava resolvido, mas conduzir o meu Feijãozito (um Renault Clio de ’95, a gasolina) é old school, e apesar de amar conduzir carros difíceis, lets face it – não sei se algum dia poderei voltar a conduzi-lo. Eu creio que sim, até porque ainda há dois meses nem o pé sentia no carro (não sabia onde ele estava, como se tivesse um pé cego, e falhava os pedais ou ficava com o pé preso debaixo deles) e agora comporta-se quase como um pé normal. Mas o braço está fraco, e a sensibilidade profunda não está lá grande coisa. A mão é das coisas mais complicadas de recuperar, sempre me disseram isso.
É que não me sinto confortável em pedir sempre aos meus pais para me levarem seja onde for. Já me levam ao hospital todos os dias, e não me apetece estar sempre a pedir-lhes que me levem a este e aquele sitio. É que eu moro na Marinha, ou seja, tudo se passa onde não é a Marinha Grande, e mesmo insistido em está aqui, moro numa ponta da cidade, o que quer dizer que vivo longe de tudo. A Marinha sempre me sufocou, e agora é que estou a compreender o porquê; uma pessoa que não tenha forma se sair daqui está literalmente lixado. Não existe sequer um escape, as pessoas cá vivem, vivem para trabalhar, e quando querem cultura vão a Leiria, por muito duvidosa que seja. Estou revolta sim, porque tenho 22 anos, tenho carta há 3, vivi sozinha durante 3, e agora sinto-me como se tivesse 16, a ansiar pelos 18 para sair daqui. A merda da insatisfação surgiu nesta cidade, e é graças a ela que me tornei (pseudo) artista. Muito obrigada, Marinha Grande!
(Tirei esta foto em 2005, no meu primeiro anos da faculdade. a minha casa é perto da estação de comboios, bastava atravessar um descampado, onde havia uma fábrica pequena. Para onde quer que olhasse só via fábricas. E o arame farpado... É como me sentia antes de ir para Caldas, e como me sinto agora. Presa.)
A expectativa deixa-me doente.
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