Lamento por não lamentar (mas vive na minha cabeça todos os dias tudo o que fiz).

A embalagem do Zigabal mudou. Há já quatro anos que a epilepsia me assombra, mas agora é apenas isso, uma sombra que me lança ao chão para provar já o que um dia vou ter como alimento. Não é mais a epilepsia que me assuste, nem sequer o AVC, nem todos os infortunios que ocorreram na minha vida. Sou eu, e a especial capacidade que tenho de repelir pessoas, pessoas importantes, pessoas que me marcaram. Julgo que estou já na fase da aceitação, nem deus eu culpo. Não perdoo ninguém pois não há ninguém para perdoar. Vivo para o momento com um ligeiro desejo futuro, mas já não há nada que me faça ficar ansiosa. Paz e luta, com um sorriso na boca mas também com uma gota de mar pronta para se soltar. Saudade sempre impiedosa, não de quem fui mas de quem foram. E quantos se foram, importantes demais para irem. Mas quantos mais me tocaram e andamos juntos rumo ao buraco negro. Sinto-me livre, apesar de tudo. Nem sempre as conjunturas correm sem um revés, e é bom que ele haja. Tenho relido o Re-Cobro, é tão linda ver minha esperança e força. Estava tão focada nela que me esquecia de tudo. Agora sei, o meu futuro não será nada fácil, o meu presente já não o é. Restam-me ilusões que me obrigo a manter. O Teatro. Um dia engano-me e faço algo, apenas para provar que muitas vezes o que amamos não precisa da nossa existência. Um dia alguém me disse que vivia em ilusões, mas se não forem elas, quem me abraçará? Minto tanto a mim propria que constuo uma camada entre as pessoas e o ceu, mesmo assim deixo-me ser devorada pelo apetite foraz de quem me quer para prato principal. Não há ninguém que diga que sou indiferente, um tornado é um bom exemplo, ou sugo ou atiro tudo, mesmo que tente ser... normal. Eu provoco as situações, e algumas chegam mesmo a dançar para mim sem eu pedir a valsa. A verdade é que sempre gostei de dançar, e o meu corpo move-se sem que eu o ordene, e então fico só no salão, com a sensação de mil olhos apontados para mim. Não sou inocente, culpada fui algumas vezes. No entanto não lamento nada, não existem arrependimentos, pois não acredito nisso. A Desculpa é falsa, os actos são verdadeiros. O corpo não mente.

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