Resultado da aposta

Escrevo sempre a ouvir musica. O meu estado de espírito influencia a música que ouço e vice-versa. Estou a ouvir uma banda que encontrei no myspace muito parecida com Mogwai, a grosso modo. Estou deliciosamente lânguida, deitada na cama como estou desde que acordei, as 19h (quem conhece Mogwai sabe do que falo…). Hoje, como todos os dias que tenho terapia, passei pelo jardim, e pus-me a pensar que já tinha visto este jardim assim, colorido, com pessoas nos bancos simplesmente a estar. É muito difícil Estar, nestes dias. É quando suspiramos e dizemos “isto é que é vida!” e de imediato apercebemos-mos, em silencio, que a vida nunca é aquilo que se espera. Aos 16 temos uma banda e só pensamos em percorrer o mundo em digressão; ou sonhamos ser médicos ou modelos. Mas chegamos a um ponto de viragem e nem nos apercebemos que, aos poucos, estamo-nos a tornar noutra coisa completamente distinta aos que planeávamos. Mas, durante uns anos, mantemos em paralelo de importância as coisas que TEMOS e QUEREMOS fazer, porque os sonhos compram-se. Ou julgamos isso. Até que chegamos a uma fase na vida em que paramos de sonhar e começamos a ambicionar. Ter mais dinheiro para sair de casa dos pais. Ter mais dinheiro para comprar um carro novo and so on, até chegar à velhice e querer dinheiro para deixar para os filhos.

Mas o que percebo eu da vida, não é verdade? E digo isto sem ironia. É o que vejo, o que sinto. Na vida há sempre coisas que mudam, mas a pessoa em si nunca muda.


E cheguei ao ponto que queria, à APOSTA. Parece que estive enganada este tempo todo, independentemente do resultado da aposta, pois quando perguntei já sabia o que era. Peço desculpa a todos os que votaram e não me conheceram antes, mas este post é para todas as pessoas que conheceram e “antes” e o “agora”… Volto a afirmar uma coisa que, intrinsecamente já sabia, mas a alma esconde muita coisa até ser despertada para o consciente, voluntariamente ou não; eu sou A DANIELA MARIA MORGANIÇA DOS REIS, como vem escrito em todos os documentos que já tive, mesmo quando renovei o BI e a mão que assinou não era a mesma. As pessoas mudam mas não deixam de ser as mesmas. Sei que é difícil de compreender numa primeira análise, pois também eu andei enganada este tempo todo; mas, irremediavelmente, sou a mesma Daniela que conheceram anos atrás, mesmo que custe a aceitar que não me comporto como antes. Fisicamente, volto a dizer (por incrível que pareça – ou não – são os meus amigos mais chegados e a minha família que tem mais dificuldade em aceitar) sou deficiente. Não sei se vou ficar para sempre, mas nunca vou ficar normal da maneira que os habituei. E vão ter sempre a imagem de mim no coma, cheia de tubos e máquinas dentro de mim. A minha mãe tenta não falar no assunto, a minha irmã o contrário. Cada um tem a sua maneira de tentar exorcizar as recordações dessa altura. Eu estou alheia a alguns momentos que eu própria vivi. Para eles morreu qualquer coisa de muito importante que me definia como pessoa, mas acho que essa “qualquer coisa” varia de uns para os outros. Respeito a visão deles, mas começa a magoar-me – embora tente que isso não aconteça – sempre que tento relativizar as coisas e dizer “já passou”. Até porque antes dizia-o com sinceridade e agora digo-o para me convencer a mim própria e, para mim, está só agora a começar…


No parque apercebo-me de como o tempo passa. Todos podem replicar que sou “nova” e que tenho “muito tempo pela frente”. Mas hoje, ao passar no jardim apeteceu-me não ir à terapia, deitar-me descalça na relva e contemplar o céu limpo e sentir a erva húmida que iria trespassar a minha roupa. E diria, “isto é que é vida!”. O invés, fui fazer o que tinha que fazer, com um sorriso nos lábios e a dizer maluqueiras. E logo hoje só me apetecia chorar ao ver um homem que andava completamente apoiado na terapeuta a lembrar-me, pela primeira vez, que quando saí da cadeira de rodas, era assim que eu percorria os corredores do Hospital de Santo André, encavalitada na minha mãe, desde a ambulância até à fisioterapia.

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