Epifania expresso (a caminho da Reunião)
Estou à beira do colapso desde Abril. Problemas de memória, concentração, irritação. Às vezes sinto-me tão fraca que nem consigo pegar no telemóvel.
Os médicos dizem-me que está tudo bem "a tensão está bem, o peso também as análises estão normais". Tenho a sensação que as minhas queixas caem em saco roto porque estou óptima tendo em conta que tive um avc. Peço ao médico que me passe credenciais para fazer exames mais concretos que ele nem sabe que existem.
Sei que tenho andado a trabalhar para caralho, a meio de mudanças (sim, ainda). Não sei onde estão metade das minhas merdas que só dou falta quando preciso delas. Parte da culpa é minha, não peço ajuda e quando cedo dá merda. E dá merda porque não me ouvem, porque sabem melhor que eu. Eu, finalmente munida de coragem (cansaço) digo "não" vezes "ao expoente da loucura" e esta é uma dança que cansa mais do que a física.
Luta de anos de pedidos de respeito, interpretados como "manias".
O jogo da culpa "eu avisei-te". Não admira que não peça ajuda - pior é quando peço e sou tratada como um incómodo.
Sei que tenho sido cortante, a minha terapeuta disse-me que o que os outros sentem é responsabilidade deles. Tenho medo de me tornar insensível mas estou tão cansada, tão cansada... à parte do trabalho, nada na minha vida é orgânico. Sinto sempre que faço um esforço adicional para manter vivas relações que, se não pelo meu constante CPR, já tinham morrido. Creio que talvez cobre algo insano, ou cobro apenas o que dou - não cobro nada, na verdade. Parece que estou parada a ver se o bicho se mexe (mexe, mas noutra direcção). Também não posso pedir mais do que podem e querem dar. Também não posso pedir introspecções de alguém que não o quer fazer - honestidade. Talvez seja assim tão insuportável que ninguém queira pagar visita (e como vou saber se ninguém mo diz? Ou não sou?).
"Que a vida é só trabalho, trabalhinho da Silva", que seja. A minha terapeuta ressalvou o facto de continuar a tentar, gostava de saber se existe outra alternativa. E é, de certa forma, triste que as minhas conversas sejam com a minha terapeuta. Talvez lhe peça para fazer a elogia, se for antes dela (deixo pago), porque creio que ninguém sabe das minhas aflições como ela - infelizmente não há espaço para partilha, e talvez não o saiba fazer noutro contexto.
Tenho pessoas fascinantes ao meu redor (contexto trabalho) que não sei como ser. A distância também é um factor. Estive tanto tempo calada que falar parece contra-natura. Este é o mote que me quero debruçarar na 3a performance, estou aterrorizada, não sei como o fazer nem material tenho para começar a experimentar. Também me aprecebo que sou demasiado meticulosa nas minhas criações, cobro-me o que não consigo. E porque é que o faço? Porque a sociedade me falhou. Preferia ter tido um emprego. Preferia ter tido a possibilidade de fazer tudo by the book, parceiro, filhos, all nine yards - fazer o quê agora? Criar e enlouquecer a fazê-lo, pelo menos até que a morte venha ou que tenha coragem do fazer.
Se alguém ainda ler esta merda, convida-me para um café, e se a conversa não fluir podemos só fazer outra coisa qualquer.

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