A luta esgota-nos, suga-nos e só não nos devora porque não valemos a pena. É sempre uma faca de dois gumes, sai-se sempre a perder algo. Estou tão cansada desta existência, angustiada, de bolo na boca - dava-me jeito alguma esperança neste momento. Às vezes fazer o que achamos ser justo não serve de nada. Raia miúda. E depois, no caixão, justiça será uma memória que virá com o corpo.
Pergunto-me para quê correr. Só queria sentir-me pessoa outra vez. Penso nisto e vejo que nesta minha luta mostro mais a minha diferença. Acho que preciso de parar (o meu corpo já me pede clemência). Talvez haja outra forma de vida, que esta está muito perto do insuportável, insustentável. Preciso de boiar.
Blues, caminho da Ervideira.
Isto para dizer que recusei participar nos outros laboratórios. Audácia de raia metia a gente. Audácia de quem não aguenta muito mais do que tem que aguentar. A pena. O insulto. O isolamento. As dores. Não sei o que fazer mais (e sorte tenho ainda destes outros projectos terem surgido, como boia de salvação).
Imprudência de quem acredita (segura a respiração!) - que tola. O mundo não muda pelas minhas acções, trabalho nem insistência - que arrogante. Parece-me que o Armagedão seria uma festa que gostaria de ir.
Então para quê fazer seja o que fôr? A arte perde a magia quando institucionalizada. Regras, temas, visões - estou anos luz dessas inquietações. Fazer porque se tem algo a partilhar, como no início, e no início era o verbo, que será o final? Que será o meu final, afinal? E que é que isto importa?
Boiar,
boiar,
boiar
até que o mar me leve
até que a memória se esgote
até que, por fim, haja um.
Com sorte, não verei nenhum
E não sou forte para cobrar
O que o mundo me deve.
Comentários