Circo (versão pós-apocalise)
Vamos pôr um som para começar, pode ser?
Pronto. É possível continuar a amar tanto um lugar onde o caos é norma? Um lugar que sabe a casa, onde se deseja sair e ficar ao mesmo tempo, sempre no pico da ansiedade.
Dei por mim a ter que voltar a mim, pensei que já não conseguia. Agora, de volta ao silêncio, a angústia não me larga, outro tipo de angústia. A minha avó dizia que a vida está entre dois cagares, e parece que só sei saltar de um lado para o outro. Aprecebi-me que sou muito mais parecida com a minha mãe que pensava também. O cuidado a par da luta. Tentei continuar sossegada até que me fartei de ser pisada e de assistir outros ao mesmo.
As reuniões inquisitorias, os privilégios tidos como direitos, o silêncio e o medo, basta. Fui, desconcertei, abracei, voltei e parte ficou lá. Aqui não tenho ninguém para cuidar, para abraçar, guiar. Ser mãe órfã de filhos. Ter tanto amor e não ter como o expelir.
Na verdade sinto apenas culpa por não ter conseguido fazer nenhum milagre.
Quero sair desta casa, mas não sei para onde quero ir. A velocidade dos dias pautados pelas auroras e olhos cansados contrasta com os dias vagarosos e solarengos. Durmo dias inteiros para acordar cansada - viver só por mim não me dá alento.
Algo tem que mudar drasticamente e rápido, estou a definhar, e não tenho qualquer plano. Só não quero ter que voltar à inércia, acção, acção, acção - estou pronta mas não sei para quê.
Sempre pensei que preferia morrer a lutar, não me tinha apercebido que precisava de lutar para me sentir viva e, ao mesmo tempo, é por ter arma em punho que fiquei órfã.
Não tenho meio termo, e tanto que tentei. Falhei redondamente. Preciso de setas desta vez. Há algo de muito errado comigo, e não sei mais o que fazer. Talvez o meu coração rebente duma vez só, que assim é tortuoso.
Onde é que acertei? Porquê esta inquietação? Preciso de direcções, opiniões, ideias, qualquer coisa. O meu espírito está exausto desta calma.
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