A alma que venderam por mim

Tenho pensado em escrever por ocasião do meu aniversário, na verdade estive triste pelo marco e mesmo tempo sinto-me atirada de um lado para o outro pela vida adulta, como se presa na mala dum carro em movimento. 

Tenho lido o blog à medida que alguém o lê também, e apercebi-me que, apesar do fogo ainda estar lá, a escuridão é tal que não se vê ponta de luz. A esperança foi-se dissipando e as minhas conquistas sabem-me a ansiedade. Estou meio dormente e dorida, como seria de esperar que alguém que vive na mala de um carro.

Fiz 37, comecei a escrever aqui há 15, 16 anos. Tenho por escrito o testemunho do lento processo de desencantado pela vida. Devia orgulhar-me por todas as minhas conquistas e nem delas falo porque não importam, e dói-me, dói-me não conseguir sentir uma nesga de orgulho. A verdade do meu sucesso na invisibilidade é a minha total incapacidade de me conectar. Pensei de onde isto viria e sei de onde, só não sei sair deste sufoco. Isto é tão complexo para mim como pedir a uma criança para pilotar um avião. A par disto vem o meu constante sentimento de fardo. 

Existe um peso tão grande em mim neste momento que não posso criticar ninguém que se tenha afastado, nem me posso criticar por me ter afastado. Desapareço à moda do Sebastião, umas vezes porque fiquei exausta outras porque não sei o que dizer. A solitude é-me confortável mas tem sempre a porta aberta para a solidão.

Não sei mais que faça para alguém de me tentar manter viva. Que futuro imaginei eu aos 20? Que futuro imaginei eu aos 21? Não foi este, que estava muito para além da minha capacidade de imaginação. 

Perdi o sal. Nem um banquete me conseguiria encher porque o meu estômago, por não estar habituado à fartura, contrai-se e expele. Perdi a capacidade de ver o mundo com as cores que ele tem. C A D A D I A É U M A L U T A E R E Z O P A R A N Ã O F I C A R M A L U C A.



Parabéns Daniela. Conseguiste aguentar mais um ano.

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