Sobre a paz (resignação)

O meu uber deu uma guinada de súbito, para evitar o embate. O meu coração nem deu conta, de tão apertado que vinha. Não sei porquê (sei, mas não quero descrever o motivo porque não é um motivo, é um carnaval desenfreado à moda de Torres com os meus medos e demónios) tenho vindo a reparar que tenho estes anseios todos os meses, geralmente quando se aproxima um aniversário. O luto é fodido, o coração quase que me rebenta. 

Não pertenço a nada, a ninguém e com facilidade nem a mim própria.

Tenho a mente tão dilacerada que confundo tudo, durmo de exaustão para acordar duas horas mais tarde e não consigo comer. Estou cansada de estar cansada, cansada de estar triste e cansada de mim e do meu corpo. Estou cansada de não conseguir falar e cansada de ouvir. Pior, estou cansada da ausência da própria ausência. 

Que todos os dias corressem como a água que me suporta, me engole, me devolve e me cura. 

Nada é tão mau quanto parece (cria-se tolerância à dor) mas está muito longe do que é perceptível. Na dúvida corta-se tudo e pronto, assim é mais fácil. No fundo é só uma faca de dois gumes atravessada no meu corpo. 

Sinto que estou cada vez mais longe de tudo, como se a gravidade já não exercesse poder sobre mim e fico ali, no vácuo, a flutuar. E, ao mesmo tempo que isso me apraz, debato-me para voltar. Vivo em paz por resignação.

E, às tantas, sou tão insignificante que nada disto importa. É um facto, nada disto importa da mesma forma que estas palavras não importam da mesma forma que nada importa. 


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