Combustão Expontânea

(Sinopse completa e video da minha última criação, inserida no projecto Solos Multiplicados com a curadoria de Rafael Alvarez, interpretada por Inês Cardoso.)

"Do conforto asséptico se nasce, depósitos de esperanças alheias. Tudo prossegue, como planeado, não como prometido, tampouco como desejável. Aprendemos a não nos questionar e, embora sintamos a inquietação, calamo-la para que consigamos arrastar-nos pela vida como autómatos.
Nada disto é relevante, expecto quando olhamos para a bússola moral e vemos que ela não funciona como nunca funcionou, à semelhança dum relógio avariado que nem está certo duas vezes por dia porque continua a funcionar, apenas dessincronizado. Às tantas o certo e o errado perdem o seu significado. Sintaxe e dogmas, tal como os conhecemos, desmoronam. Daí, a escuridão de reconhecermos que o único obstáculo para a liberdade somos só nós, e entendemos também que, para se ser realmente
livre, há que acatar o peso da responsabilidade de todas as nossas acções, reações e inércia.

Tudo é passível de ser questionados, sobretudo as nossas próprias crenças.

Será sempre a esperança que nos dá alento, da mesma forma que é ela e só ela que nos prende. Esperamos sempre a mudança, mas a mudança não se inicia per se, nem nada mudará no espaço de uma vida humana – existe, então, uma propensão à frustração desde que fomos arrancados do ventre.
Camus escreveu que “toda a infelicidade do Homem provém da esperança”. Quando se perde a esperança perde-se também a bússola, aceitamos a nossa finitude. Não é a chave da felicidade prometida, será o abandono do peso, algo que Sísifo não pode fazer.
Sem esperança, vive-se em constante combustão, e não existe luz mais nobre que do fogo."


Música: Add N to (X) - Revenge of the Black Regent
Filme: 1984, de Michael Radford

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