Amizade Improvisada

Damour Pourtoi. Este heterónimo sou eu, de facto. O meu inner self. Em amor por ti. Amo tudo incessantemente, incontornavelmente, enlouquecidamente, enraivercidamente. Talvez daí esteja só. Cada vez mais só. Conheço as pessoas tão bem que as afasto. Defeito de ser demasiado honesta e violar o espaço dos outros. Não consigo evitar. Não quero evitar. Esta sou eu. Se me aceitei duas vezes com todas as minhas características, não mudo pelos outros. Não mudo por nada nem por ninguém, Só o tempo e a experiência podem mudar alguns aspectos, mas eu continuarei sempre a ser assim. Sei que tive impacto em todas as pessoas com quem me cruzei na vida, bom ou mau. Ninguém fica indiferente. Por vezes gostava que isso acontecesse.
Gostava de ter alguém que me compreendesse da mesma forma que compreendo os outros. Que me puxasse da fossa com um abraço. Que estivesse sempre lá.
Chego à conclusão que esse alguém não existe. Que exijo demasiado das pessoas. Que espero demasiado delas. Contudo penso que o que peço não é mais do que o que faria por qualquer pessoa que fosse digna da minha amizade. Na corrente deste pensamento, chego à conclusão que não tenho amigos. Nunca tive, com a feliz excepção de um. Também esse afastei. Ainda me assombra, 16 anos depois. Fico feliz por me ter cruzado com ele. Terminámos a nossa amizade com um longo e forte abraço, e cada um seguiu o seu caminho.
As pessoas não sabem amar. No amor vale tudo. Verdadeiro amor. Como fugir de casa e aparecer de surpresa quando se tem 16 anos. Como perdoar uma traição. Mas desta vez não peço um amor. Já nem acredito nele. E quanto à amizade, estou desencantada. As pessoas unem-se porque querem algo, e isso não corresponde ao meu conceito de amizade.
Sou uma utópica. Damour Pourtoi, nome amaldiçoado. Mulher supra-consciente. Doi para caralho.

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