Memórias (Perdoem-me)
Pata de gato na minha boca. Ouço a Rainha PJ, hoje não foi um dia bom. Estou assombrada pelas memórias, sobretudo após ter passado olhos nalguns posts antigos. Chego à conclusão que nem escrever sei já. Sinto que toda eu sou um nada, nem numero sou. Triste? Pensativa. Perdi muitas coisas boas por minha culpa. Larguei os sonhos por medo, por saber que iria chocar contra a parede. A minha força (ou inconsciência, mas não deixa de ser um impulso) de outrora dissipou-se quase por completo. Esta cidade está-me a consumir, a deixar-me letárgica e quase mentecapta.
Sei que alguém me viu. Desconfio de uma alma boa que espero não ter aniquilado. A plantação do passado só agora deu algum frutos e estão carregados de fel. Nunca entendi bem as pessoas, mas quiseram desaparecer por completo da minha vida deduzo que as magoem de formas inimagináveis. Dizem que nunca é tarde para pedir perdão. Dizem também que as desculpas evitam-se. Não sou orgulhosa sem rancorosa e guardo sempre as boas memórias. São essas que ficam, aliás. É por isso que estou condenada à eterna saudade. Talvez até esteja condenada à solidão. Sinto-me confusa por não saber o que sei. Isso doí... É tão mais simples passarmos a pagina à frente daquela que não entendemos, mas pela primeira vez tento ser racional e não o fazer. Mas nunca pensei que a racionalidade nos enlouquecesse. Sinto de novo o ímpeto da fuga, mas não se pode fugir ao peso da idade. Comecei este Blog aos 22, e parece-me que estou no mesmo caminho. Sempre parada em frente não duma bifurcação mas num cruzamento em que cada saída dá para um sem numero de outros tanto em que a escolha certa é apenas uma possibilidade remota. Logo fico parada, à espera que o vento me leve ou a coragem me faça arriscar. Estou pronta, o medo acompanha-me sempre mas não me retêm; apenas sussurra ao ouvido se devo ou não entregar-me. Acho que aprendi finalmente.
Sinto tanto a necessidade de ser perdoada! Sei que errei, e provavelmente voltarei a fazê-lo, no entanto em todo este tempo posso dizer que, como dizia o Beckett, FALHA MELHOR. Não digo isto como falhar de uma maneira mais requintada, cruel nem manipuladora. Apenas sei que nem eu nem ninguém pode evitar errar, logo tento não magoar mais ninguém, ou não magoar tanto. As palavras são lâminas, mas os actos são punhais. E o desprezo é um punhal de dois gumes pois perfura tanto o desprezado como quem o comete. Quem despreza guarda também o rosto da outra pessoa, mantêm-a viva em si. Pior que isso, inflama o rosto do desprezado no coração d'outra alma que se abriu para amar. Ninguém merece amar ninguém que traz no peito o semblante de outra pessoa. Porque a página não foi lida. Nunca se saberá como nem porquê as novas almas que se entregam a quem despreza surgiram. Só o desprezado sabe, e isso é um poder imenso. Ninguém sai a ganhar, só a tristeza e o rancor.
Pára. Pára. Liberta-me e liberta-te para que possamos seguir os nossos caminhos. E perdoa-me, se conseguires. E isso só fará bem a uma pessoa, a ti. Lembras-te de tudo o bom que vivemos? Procura-o, está bem dentro de ti, debaixo dessa camada imensa de ódio e rancor. Verás, se conseguires sentir-te-ás livre de mim. Talvez não queiras, mas se for esse o caso... Digo-to muito francamente que me queres. Queres-me em ti e não me libertas. Por isso peço-te, imploro-te, liberta-me. Deixo-te aqui, em público, joelhos no chão e olhos pregados na calçada,
Perdoa-me.
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