Burning Skies

A tristeza fica-me bem. Terminei um livro que não queria terminar, um milhão de paginas escritas manualmente onde os borrões imperam como ilustrações expressionista. As energias "karmicas" foram desafiadas demasiadas vezes. Recuso-me a ser comandada por um "destino" qualquer, mas sinto um vazio tremento, quase como uma supernova. O céu nocturno que me valha pois a gravidade é-me pesada e enterra-me vagarosamente numa cova rasa. A verdade é que odeio a tristeza tanto quanto a amo, de uma forma tão pura que fere. Sofro de episódios frequetes de absoluta felicidade, meras epifanias, esgares, violentos espasmos de harmonia - ocorre num completo retraimento dado a sua curta duração. Penso que pessoa alguma os presenciou. Ou ocorre por estar só, provavelmente por não conseguir partilha-lo, ou não o saber partilhar, ou até partilho-os de forma bizarra. Presumo que não sou linear, nem comigo nem com os outros, como um cão enorme que quer brincar mas atira a pessoa ao chão. Sou bastante naif nisto nas relações humanas. Sou naif o suficiente para amar quando não o sei fazer, nem sequer a mim própria. Amo utopias, e isso acarreta o isolamento como moeda de troca. Até hoje consegui apenas histórias. Embeveço-me nas ideias, projectos, trabalho, tudo para enganar a dor. Mas ela vinga-se e puxa-me para a realidade com uma agressividade extrema, força-me a beijar o lancil e pergunta-me quem julgo ser. Fecho-me a pedir ajuda, mas não estendo a mão a ninguém. É sufocante gritar quando as lágrimas não caem. Nessas alturas a loucura toma lugar e começo a pintar uma tela de um bordeaux maravilhoso, até chegar à magnificência do alivio. No entanto a tela permanece no cavalete após o climax e fico com medo e vergonha de olhar para ela. Não me orgulho desta necessidade. Não me orgulho de nada. Esqueço rapidamente as minhas vitórias e guardo apenas as magoas. Vitima de mim mesma, encarcerada na minha violência. Estou cansada de mim, e a minha penitência é viver. Se algum dia me permitirei a ser feliz? Não faço a mais pequena ideia. Se francamente o desejo?

Comentários

Anónimo disse…
"We must accept finite disappointment, but never lose infinite hope."
Damour Pourtoi disse…
Não luto por uma causa. Luto para me manter viva.
Anónimo disse…
Acho que me entendeste mal, não questiono as razões pelas quais lutas... Apenas refiro que o desgosto, a desilusão, a perda, são sentimentos que embora durem o tempo necessário para ser ultrapassados, tenha este o tamanho que tiver, são finitos, não duram para sempre. Já a esperança é algo infinito, pois tudo o que fazemos é em função de a termos presente, mesmo que inconscientemente.
Damour Pourtoi disse…
Confesso que a esperança abandonou-me (ou não permito que ela entre). Não quero pensar no futuro, muito menos no presente. Quero anestesiar-me o tempo que for necessário até que um esgar de força me acorde.
Anónimo disse…
Sendo o mais honesto possível, a esperança nunca te abandonou, apenas foi mais fácil dizer que nao existe pois assim e mais fácil lidar com a vida, e mais fácil baixar a cabeça e esperar que a tempestade passe que afronta-lá. Refugiamonos na aparente impotência em lidar com o problema, dizemos que nao ah esperança, quando o que deveríamos dizer é, eu quero algo melhor mas tenho medo de lutar e perder... Pois o meu medo e o que me guia e prende ao passado. Nunca perdemos a esperança, apenas a renegamos ao esquecimento para que possamos viver com a nossa consciência durante a fase de luto. Mas tudo inevitavelmente tem de acabar, pois nao a mal que nunca acabe e bem que dure para sempre.
Damour Pourtoi disse…
Respondo-te com o que escrevi hoje.
Anónimo disse…
Tenho de admitir que não sei interpretar totalmente as palavras que escreves-te... Principalmente porque não te conheço sem ser pelas palavras que aqui escreves, sinto que apenas observo a moldura, não sendo capaz de ver a tela do quadro para onde olho.

Mas o que interpreto e que as tuas palavras falam em falta de esperança, em desalento e desespero. No entanto descreves um momento único de uma maneira analítica que apenas alguém com vontade de viver, joie de vivre e verdadeira sabedoria para apreciar os momentos da vida poderia fazê-lo... Deixas-me intrigado sobre o que verdadeiramente habita na tua alma, pois não parece ser aquilo que as tuas palavras reflectem.
Damour Pourtoi disse…
Nem eu sei o que habita em mim... Sinto-me sim, uma moldura. É horrivel não me permitirem ser a criança que sou. Sim, no âmago do meu ser sou uma criança, com tudo o que a infantilidade implica. Sinto é como se alguém me empurrasse para o caminho que não quero seguir, e esse alguém desconfio que seja eu.
Daí, talvez, a minha "joie de vivre". São apenas pequenas sobras de quem fui. Agora vivo o medo e a arrogancia que viver com ele implica. Estou a tornar-me alguém que nunca quis ser.

Ainda bem que não me conheces. Só revelo a tela aqui, e a moldura é vulgar.
Anónimo disse…
A vulgaridade ou não da moldura caberá aos outros decidir, pois raramente conseguimos ter uma noção completa daquilo que somos ou como transparecemos aos olhos dos outros. A nós cabe decidir a influencia que a opinião dos outros tem em nós, pois no fundo não passa disso uma opinião, sendo que a verdade esta algures entre os dois.

Viver com o medo e algo normal, só os deuses e os imortais não o fazem. Agora deixar-te dominar por ele, isso sim terá consequências nefastas para a tua pessoa. Principalmente quando o medo é o de ser feliz, pois é mais facil desistir e não lutar por algo, é mais simples dizer que não dava que lutar e ter de saborear a amargura de dizer "não deu".

Se não sabes o que habita em ti como sabes que te estas a tornar em quem não queres ser?

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